Dia desses ocorreu um episódio que me fez
pensar em como ando cada vez mais ranzinza e vacinada contra
propagandas. Bem protegida diante das, cada vez mais efetivas, artimanhas do marketing.
Vínhamos de viagem, depois de uma bela e
emocionante cerimônia de casamento e eu estava assim bem relaxada. Até indefesa,
pensaria. Paramos em uma lanchonete dessas à beira de estrada. Minhas amigas
pediram o refrigerante. Aquele imbatível nas vendas, o da lata vermelha, cujos
investimentos em propaganda devem ser maiores do que na própria produção. Há
anos ele é o campeão de consumo no seu setor. Certamente não conseguiu isso por
causa do sabor do seu xarope, cujo teor de açúcar ou ciclamato é tão alto que
deixa abestalhado, quem se dá ao trabalho de ler o rótulo. Mas a custa dos
bilhões de investimentos na marca. Mil perdões, amigas.
A última jogada de marketing da empresa é
colocar nomes de pessoas nas latas do refrigerante. Minhas companheiras de
viagem se serviram. Perguntei à balconista se tinha água de
coco. Diante da negativa, preferi comer meu pão de queijo a seco.
Minha amiga virou o nome impresso na lata
para o meu lado.
- Viu?
Perguntou-me.
– Sim, respondi indiferente.
- Viu mesmo, o nome que está na lata?
Eu havia visto,
claro. Era o nome da minha filha mais velha. Ou melhor, o apelido. Minha
indiferença não foi nem minimamente abalada pela insistência dela.
- Não quer mesmo levar a lata? Ela tornou a
perguntar.
- Claro que não, retruquei imediatamente. O
que vou fazer com essa tranqueira?
- Um porta-lápis, outra coisa qualquer,
guardar de lembrança, insistiu.
Consegui apenas esboçar um muxoxo . Não tomo refrigerante há anos e, nessa hora,
tive certeza de que estou vacinada e bem imunizada contra essa “empurroterapia”,
permanentemente praticada pelas grandes corporações e, em menor escala, também
pelas menores.
Todavia, logo em seguida tive outra certeza:
careço de delicadeza. A amiga a quem me
refiro é um amor de pessoa, sempre carinhosa e gentil. Ela estava me dando uma
carona, ou seja, eu estava viajando de favor no carro dela. No mínimo, eu
deveria ter sido mais simpática com o seu oferecimento e aceitado agradecida a
tal da latinha.
Arrependi-me
pela forma, brusca e intempestiva, com a qual recusei seu “presentinho”. Tenho,
permanentemente, pedido aos deuses. Para o meu conforto, saúde e paz. E, porque
meus tolerantes amigos merecem, mais delicadeza.
Estabanada, desde sempre, casca grossa, como
minha mãe dizia, assim sou. Só mesmo pela generosidade das pessoas que escolho
para o meu convívio, explica-se a paciência
que possuem com esse meu jeito brusco e desajeitado.
Poderia ter sorrido e demonstrado que fiquei
feliz por ter encontrado, na indesejada latinha, o nome da minha filha. Ter
agradecido gentilmente e aceitado a oferta, seria o mais educado.
O provável mesmo, se eu assim o fizesse, seria
que, certamente, o restinho do refrigerante que quase sempre permanece no fundo
da lata, pingaria em minha roupa ou minha bolsa. E eu teria raiva por tentar
ser boazinha. Ou talvez pingasse no banco do carro da minha gentil amiga. E eu
já estaria começando a me arrepender disso tudo, nos primeiros instantes após a
minha decisão de ser diferente do que sou.
E, certamente, ao chegar em casa, minha
crise de gentileza passaria logo, e a latinha iria diretamente para o lixo, seu
merecido lugar.
Gostei do seu texto.
ResponderExcluirEu também não estou tomando mais este liquido. Espero conseguir
Beijinhos adoro seu blog.