De Gramado seguimos para a
fronteira, com destino ao Uruguai. Passamos por Porto Alegre, Pelotas, Novo
Hamburgo, Canoas, contornamos em alguns trechos, o lindo lago Guaíba. Na
região, predomina a vegetação baixa com extensas áreas de pastagens, rebanhos
de gado bovino e esparsos campos de cultivo de arroz. Avistam-se muitas torres com imensas hélices para geração de energia eólica. Uma travessia
bonita.
Diferenças regionais são perceptíveis
no linguajar. Quando dizemos, no posto de gasolina ou no pedágio, -
obrigada, nosso interlocutor responde:
Merece! No restaurante, para espanto da mineirada, serviam tutu de
feijão com cobertura de queijo!
Pernoitamos na cidade de Santa
Vitória do Palmar, bem pertinho de Chui,
cidade da fronteira, para onde rumamos no dia seguinte bem cedo. Ali fizemos os
procedimentos para dar entrada no Uruguai, passando pela imigração, e cuidamos
de obter a ‘Carta verde’, documento necessário para transitar com automóvel
brasileiro naquele país. Tal documento consiste basicamente em uma autorização
para circular no país por período de tempo determinado e inclui um seguro do
automóvel e contra acidentes com terceiros. A cidade de Chuí é cortada por uma
avenida: de um lado, território brasileiro, do outro uruguaio.
Dai seguimos para Punta del
Este, que fica a cerca de 200 km da fronteira. Passamos por Castilhos, Rocha e
Maldonado. A estrada é boa, plana com sinalização perfeitamente compreensível,
pouco trânsito e, melhor, sem pedágios.
Praia em Punta del Este |
Não havíamos decidido se
ficaríamos por uns dias em Punta del Este. Chegando cedo, circulamos de carro
pela cidade. No período em que por lá passamos havia pouco trânsito, o comércio
estava, em sua maioria, fechado e a cidade não nos pereceu muito atraente. O
tempo estava frio e caia uma leve neblina.
As praias do lugar possuem águas
com aspecto barrento e a areia é amarelada. Conhecida como um balneário de luxo
e por possuir o maior hotel cassino da América do Sul, parece que, fora do
verão, quando costuma receber em torno de um milhão de pessoas, Punta del Este é quase uma cidade fantasma. Em um dia
frio e com um pouco de neblina, praticamente não havia pessoas nas ruas, exceto
um ou outro caminhando ou correndo na orla.
Demoramos a encontrar um restaurante aberto, mas
quando achamos, a impressão da cidade melhorou bastante. Pudemos constatar que
a cidade, também conhecida por sua gastronomia, faz jus à sua fama. Pedimos uma parrillada, um churrasco típico do Uruguai, com carnes e legumes grelhados
num braseiro, à vista dos clientes. Mas antes que pudéssemos experimentar o
prato principal, a entrada já nos impressionou bastante, principalmente pela
qualidade dos pães. E a carne... bem a carne era de comer rezando.
Sem muita disposição para arriscarmos
a sorte nos famosos cassinos da cidade e como estávamos a apenas 130 km de Montevidéu,
resolvemos seguir viagem.
Montevideu é uma cidade limpa e arborizada |
Portal em Montevideu |
Chegar em Montevideu no início da
noite, com o tempo nublado, foi meio tenso. Afinal é uma cidade grande.
Encontrar o hotel reservado, mesmo com o auxílio de mapas e gps não foi tão
simples. Diz-se nas informações disponíveis, que é uma cidade pacata. Nem
tanto. Nessa noite, cansados da viagem, saímos por perto, apenas para jantar.
Embora estranhando a maioria dos pratos que não fossem carne ou massa,
aprovamos mais uma vez. Conhecemos o chivitos, prato comum no Uruguai e que
consta de um grande sanduiche aberto, com carne (não hambúrguer), ovos, salada
e muita batata frita.
Praça da Independência |
No dia seguinte escolhemos fazer
um tour pela cidade. Começamos pela Praça da Independência, onde há um conjunto
arquitetônico interessante e pontos turísticos charmosos como o Portal da
Cidadela (portal que restou da fortaleza que protegia a cidade de invasões, na época
da colonização), o monumento a Artigas,
o libertador do Uruguai, o teatro Solis e a Casa Legislativa. Ali também está o
Palácio Salvo, construído por inspiração da Divina Comédia de Dante, um
edifício de arquitetura majestosa e grande beleza, que é um dos principais
cartões postais de Montivideu. A praça Independência separa a
cidade velha da parte mais moderna de Montevidéu.
Monumento ao Carro de bois |
Visitamos o parque Batle, uma
extensa área verde no meio da cidade, onde fica o Monumento ao Carro de bois (Carreta), obra do escultor José Belloni,
uma bonita homenagem ao primitivo meio de transporte utilizado durante séculos,
principalmente no meio rural. Perto dali fica o estádio Centenário, a mais
importante arena de futebol uruguaio, que diga-se de passagem, é uma das
grandes paixões do país.
Passeamos à beira mar, pela
Avenida Rambla que se estende por mais de 20 km ao longo da costa, com um belo
calçadão arborizado com a bonita palmeira fênix canariense, muito presente no paisagismo local. Por ali
pessoas praticam exercícios e caminham com seus animais. Em toda a extensão da
orla há bonitos edifícios de moradia, bem como hotéis charmosos e os
onipresentes cassinos.
Passamos uma tarde no Mercado do
Porto, um dos símbolos da cidade e que
possui mais de 130 anos. É um
lugar para demorar mais tempo e almoçar. Há, além de várias lojas de artes,
artesanato e antiguidades, diversos restaurantes onde se come a melhor carne
uruguaia, a verdadeira parrilla. Não é à toa que os uruguaios, ou melhor os orientales (porque Montevideu fica do
lado oriental do rio da Prata, que ali se encontra com o Oceano Atlântico),
orgulham-se tanto de, apesar de seu pequeno território, serem um dos maiores exportadores de carne do mundo. Essa
atividade foi a responsável pelo destacado desenvolvimento do país na segunda
metade do século XX, fazendo com que o Uruguai fosse chamado “a Suíça das Américas”.
Mirante em Colônia |
Chegada a Colônia do Sacramento arborizada com a fenix canariense. Foto: Fátima Castro |
O próximo destino foi
Colônia do Sacramento, uma charmosa cidadezinha histórica situada às margens do
Rio da Prata. Fundada em 1680, por portugueses, a cidade foi palco de disputas
ferrenhas entre esses e os espanhóis, que acabaram dominando a região. É
considerada um dos pontos turísticos mais bacanas do país, sendo reconhecida
pela UNESCO, como patrimônio da humanidade. Passear por suas ruas com
calçamento de pedra original, admirar a beleza da arquitetura colonial e dar
uma esticadinha pela areia da praia, antes de parar em um dos charmosos
restaurantes para o almoço é um programa divertido.
Ao contrário de Punta del Este,
a cidade fervilhava. O comércio, além da enorme variedade de restaurantes e
hotéis, é farto em boas lojas de roupas
de frio e de artesanato. A oferta de bons vinhos é variada, não é à toa que o
povo apregoa que o país, apesar de pequeno possui mais de 190 vinícolas.
Em Colônia já estávamos às margens
do Rio da Prata que separa o país da Argentina. Aliás, o rio deu nome ao Uruguai,
que na linguagem indígena, significa “Rio dos pássaros pintados”.
No dia seguinte atravessamos de bukebus, o Rio da Prata, que
mais parece um mar, com destino a Buenos Aires. Para evitar o risco de fazer
aqui um textão, deixarei para um próximo post o relato de nossa memorável
permanência na capital da Argentina.
Amigos em Colônia do Sacramento |
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