terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

FÁBULA DO GALO ESTRESSADO

      Geralmente compostas como histórias curtas que têm animais como personagens, as fábulas são criações literárias muito antigas, nas quais os bichos assumem características humanas como falar, por exemplo. É bastante comum que tais narrativas comecem com o chavão “antigamente os animais falavam”. São largamente utilizadas na literatura e na educação infantis, por trazerem ensinamentos e proporem condutas edificantes. Geralmente possuem desfechos bem didáticos intitulados moral da história.

        Quase sempre as fábulas são oriundas do imaginário popular e divulgadas por intermédio da tradição oral, sendo  repassadas entre gerações. A própria palavra fábula origina-se do verbo fabulare que significa narrar ou falar.

        São famosas e precursoras as fábulas de Esopo, que foi escravo na Grécia e viveu no século IV a.C., sendo o francês La Fontaine um dos seus grandes divulgadores.

        Recebi ontem de minha querida amiga Valéria essa bem moderninha Fábula do Galo Estressado que reproduzo aqui, sem indicar autor, considerando que essa seja, como já foimencionado, também fruto da sabedoria popular.


 “Fábula do Galo Estressado. 

         O galo cantava por acreditar que o seu canto era o responsável por fazer o sol nascer. Todas as manhãs eram iguais. O animal acordava de madrugada com o céu ligeiramente azulado, subia no telhado e lançava o seu canto imponente. 

             Alguns minutos depois, lá estava o sol brilhando em todo seu esplendor. 

         Só então o galo cuidava  dos afazeres do terreiro: expulsar invasores, proteger as galinhas e os pintinhos, ciscar, procurar alimentos…

        No galinheiro era tido como alguém muito poderoso. Todos o respeitavam. Essa condição o deixava estressado por conta de tanta responsabilidade: já pensou se algum dia perdesse a hora? E se ficasse rouco? Era um enorme fardo.

             Dia após dia, noites e noites mal dormidas na expectativa de acordar no horário de fazer o sol nascer. Uma manhã ele não acordou como de rotina. O estresse da incumbência fez com que perdesse a hora.

            Qual não foi o seu espanto ao despertar, por volta do meio-dia e ver que o sol nascera a despeito da ausência do seu canto e no galinheiro estava naturalmente tudo igual, sem a sua gerência. Ao se levantar foi alvo de piadas de todos do quintal.

             Seu mundo ruíra. Tudo em que acreditara era agora um monte de escombros sobre o qual não podia esconder sua humilhação. Porém, ao refletir sobre o ocorrido algo aconteceu em seu interior. O galo percebeu a leveza causada pela ausência do antigo fardo. Sentiu-se livre e feliz.

         Subiu no telhado e cantou como nunca cantara antes: a plenos pulmões. Um canto de alívio que emocionou verdadeiramente a todos. Um canto de pura arte, que desta vez não soou somente como o sinal da chegada do momento de acordar e pegar na árdua lida do dia. A partir desse dia, o galo cantava não para fazer o sol nascer, mas para celebrar o seu nascimento, certo de que aconteceria independentemente da sua vontade.

         Muitas vezes não compreendemos que a vida acontece independentemente da nossa ação. Somente quando as ilusões de poder ou responsabilidade caem, conseguimos repousar nas ruínas das antigas edificações que nós mesmos criamos e que quase sempre nos serviram apenas como prisão.”

 

                    Flor popularmente conhecida como raio da manhã

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