terça-feira, 12 de julho de 2022

CONVERSAS DE JARDINEIROS - Um Intruso no Jardim

 

Desde que implantei meu jardim, tomei a decisão de ter um espaço planejado, sem muitas misturas, privilegiando espécies tropicais. Optar por  um espaço assim, onde cada planta introduzida fique em harmonia com as demais e buscando facilidade com a manutenção tem sido uma escolha nem sempre muito fácil. Eventualmente ganho vasos com flores, como lírios, crisântemos, e begônias, por exemplo. É com certa pena que não os incorporo ao jardim, sendo coerente com a vontade de não embolar nem misturar muito as plantas, o que descaracterizaria a proposta que optei por adotar. Outra escolha que venho mantendo a duras penas é a de não introduzir trepadeiras no jardim. Embora muitas sejam lindíssimas, elas costumam ser invasivas, galgar alturas difíceis de alcançar para podas e limpezas e quase sempre espalham folhas e flores secas em profusão, dificultando meu trabalho de jardineira.

Assim, cada espécie que compõe meus canteiros foi cuidadosamente escolhida respeitando não somente as minhas preferências, mas também atentando para algumas técnicas paisagísticas que ajudam a preservar a identidade e a beleza do espaço.

Há três anos em consequência de uma reforma na casa, as plantas sofreram alguns impactos. Recentemente tenho observado com alegria que, novamente,  o jardim readquiriu sua plenitude, exigindo apenas os cuidados de rotina.

E então surgiu um intruso no jardim. Não foi um cupinzeiro, felizmente nada de ataque de formigas, nem apareceu erva daninha.


O intruso é bonito, muito bonito. Sua coloração vibrante  como o fogo não o deixa passar despercebido. Ele atrai beija flores e borboletas. Ele é sedutor
  e, para mim, tem muitas histórias. Faz parte da minha infância e remete a  memórias agradáveis. Ele é uma trepadeira e surgiu do outro lado do muro, em um lote vazio, que não me pertence. Galgou silenciosamente a altura considerável da divisória. Agora está lá, lindamente instalado no meio das dracenas do meu canteiro rente ao muro. Bonito, mas em  desarmonia com as demais espécies. É um cipó de São João. Como o jardim é um espaço de permanente aprendizado, não pude evitar a pergunta: terá surgido para me ensinar algo?

Por agora decidi deixá-lo. Pelo menos enquanto durar essa florada vou permitir que ele me lembre todos os dias que, por mais que eu tente,  tenho pouco ou quase nenhum controle sobre o que acontece ao meu redor. E que, algumas vezes, eventos  inesperados podem acrescentar beija flores e bonitezas onde não havíamos planejado.

 

Um comentário:

  1. Silvia Helena de Lacerda Oliveira12 de julho de 2022 às 13:44

    Amei o seu texto, amiga! Passei por aí e vi os cipós de São João do outro lado da rua. Lindos e cheios de energia com suas gotinhas alaranjadas. Minha criança sorriu de ternura e alegria. Que bom que decidiu dar uma chance a suas flores! Que elas enfeitem e perfumem a sua vida! Um abraço!

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