SENDO A LITERATURA UM DOS MEUS AMORES INCONDICIONAIS, QUANDO INAUGUREI O BLOG ME PROPUS A FALAR DESSE TEMA. AGORA, REVENDO ALGUNS ESCRITOS, PERCEBO QUE TENHO COMPARTILHADO POUCO OU QUASE NADA DESSA MINHA GRANDE PAIXÃO. É TEMPO DE RESGATAR E, A PARTIR DE AGORA, VOU POSTAR POR AQUI RESENHAS DE LIVROS QUE JULGO QUE VALEM A PENA SEREM LIDOS. COMO NOS ÚLTIMOS TEMPOS ANDO ENCANTADA PELA LITERATURA LATINO AMERICANA, ACHEI BACANA COMEÇAR PELO ESCRITOR URUGUAIO MÁRIO BENEDETTI, UMA DAS MINHAS BOAS DESCOBERTAS MAIS RECENTES.
QUEM DE NÓS - Mário Benedetti
Depois de outras incursões pela obra do autor, agora
sim, descobri o Mário Benedetti, escritor aclamado pela crítica e pelo público
como um dos maiores representantes da poética latino americana atual. Em Quem de nós, os personagens Miguel, Alícia e Lucas formam um provável (talvez apenas imaginário), triangulo amoroso. Miguel e Lucas são amigos e, morando em cidades diferentes, trocam cartas. Miguel e Alícia são marido e mulher. Alícia tem muito mais em comum com Lucas. Miguel está certo disso e, em sua correspondência com o amigo, nunca deixou de transmitir as lembranças enviadas por sua mulher.
O que me encantou no livro? A escrita enxuta, o estilo
irônico, ou seria amargo? Talvez melhor seja dizer, debochado. “De modo
que, perdida a esperança de me achar inteligente, ou apaixonado, resta pelo
menos a presunção de saber sincero. Para isso comecei estas anotações, nas
quais castigo a minha mediocridade com meu próprio e objetivo testemunho. É
certo que o mundo está cheio de vulgares, mas não de vulgares que se reconhecem
como tais. Eu me reconheço.” (p. 14), ou ainda:
“Alicia e eu perdemos a graça, perdemos aquele tipo de cegueira que o amor
concede quando nos inaugura. Faz muito tempo que somos lúcidos e desgraçados.”
(P. 45). E, delícia das delícias em um livro, encontrar uma frase que
se acredita tenha sido escrita para nós: “...ela é Maria, tem nome de virgem
mas gosta de tangos, de homens e de poesia.” (p. 73). A riqueza das notas de
rodapé, um luxo, como esse da de nº 27: “Essa variz, que coisa absurdamente
triste. O pior é que não sinto compaixão por Alícia: sinto pena de mim, deste
meu tempo inexoravelmente limitado por uma manchinha violácea e indecorosa.”
(p. 79). Magnifico, encantadoramente simples, literatura da melhor qualidade. Enfim,
um livro imperdível.