Há pouco pediram no facebook que relacionasse meus dez livros preferidos. Não
daria conta de fazer isso, mesmo que ficasse um mês pensando. Mais impossível
ainda, quando me pedem com pressa, como nas redes sociais, onde, se você deixa
para amanhã, já não serve. Tem que haver resposta no dia. Não! Na hora. Ou
melhor, nos minutos seguintes. Tempos de modernidade líquida, ou “mundo pautado
pelo agora” como
batizou Zygmunt Bauman. Voltemos aos livros, e que sejamos rápidos, porque não
há muito tempo para divagações.
Os Impossíveis - Por falar em
tempo, o livro, ou os livros de que mais gosto são livros que nunca li. Vivo lendo-os aos pedaços, sem, no entanto, nunca ter dado conta de acabar, da primeira à última linha. São os que chamo de (para mim,
ainda) impossíveis, como a sequência de Em busca do tempo
perdido, de Marcel Proust, composta por sete romances em
três volumes, que adoro. Leitura densa, lenta e quase impossível de
ser completada. Frases longas e memoráveis, magnificas construções de
pensamento calcadas na memória do narrador. O tempo conduzindo a narrativa.
Ainda sonho conseguir ler todos os volumes.
Nesse grupo incluo outro que, em mais de uma tentativa, não
consegui passar das primeiras 150, de suas
400 páginas. Refiro-me a O Castelo de Kafka, embora dele, tenha amado
ler Metamorfose e Carta ao Pai. Associo essas leituras difíceis, porém imprescindíveis,
a travessias à beira do abismo, como vi em Dante, na Divina Comédia, este também um livro quase impossível.
Proust, sete romances em três volumes |
Próximo ao grupo dos Impossíveis, há os
difíceis (mais uma vez, para mim). Não tenho vergonha de confessar que, somente
com muito sacrifício consegui fazer uma primeira leitura de A Montanha Mágica
de Thomas Mann, que tanta emoção me despertou em seu Morte em Veneza. E que
também foi pesado concluir Os Miseráveis de Victor Hugo.
Os Muito Bons - Deixemos os
impossíveis, para uma próxima tentativa de leitura e falemos dos
muito bons. Aqueles que amamos e que, depois de lê-los nunca mais somos os mesmos. Assim foi com Dom Quixote, de Cervantes. Um livro
que achava impossível de existir, porque perfeito, alguém pensa que não?
Que foi de mim, depois que li Grande
Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa? Virei
um trapo. Sou um trapo. O que dizer dos livros de Saramago e dos de Garcia
Marques? E dentre os livros de Machado de Assis, qual eu incluiria na lista, como o
meu preferido? De Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, ou
Di Profundis? Não poderia deixar de
fora Assim falou Zaratustra de Nietzsche, e seria pecado não incluir Crime e Castigo de Dostoievski, ou Demian, de Hermam Hesse. Da mesma forma, Memórias
de Adriano, de Marguerite Yourcenar, ou O Primeiro Homem de Cammus. Onde eu
colocaria Clarice e Graciliano, nessa lista, e quais dos seus livros estariam
lá? Tem também As veias
abertas da América Latina, um livro seminal de Eduardo Galeano, leitura
obrigatória para todo latino americano.
Perdida nas Poesias - Não daria conta de
fazer uma lista dos melhores livros, sem me perder nas poesias. Penso até que o
início não seria muito difícil, pois nessa seara, há de se começar por Pessoa.
Então, esbarraria na sequência. Drummond, ou Bandeira?
Camões, Florbela, Cecília Meirelles, Gabriela Mistral, em que ordem vão
aparecer? E Adélia Prado, Castro Alves e João Cabral de Melo Neto?
Pablo Neruda ficaria de fora? Difícil decisão.
Livros Gostosos – Dizia Fernando Sabino, ele próprio merecedor de
constar na lista dos bons, assim como Veríssimo, que nunca viveremos o
suficiente para ler tudo o que gostaríamos. Mesmo que ficássemos apenas lendo. Na
categoria romance, o último livro do Chico Buarque, Leite derramado, foi muito bom de ler. E também nesse grupo, incluo o
autor afro português Mia Couto que tem publicado coisas muito bacanas. Atualmente leio três livros gostosos ao mesmo tempo. Na
minha sala, para a espreguiçada de depois do almoço, está o Árvores
Brasileiras, uma delícia, para identificar espécies que povoaram minha infância
de meio do mato; junto dele o Tesouros, Fantasmas e Lendas de Ouro Preto, um
achado sensacional de minha última viagem àquela cidade. E na cabeceira, ao lado do
Proust (que nunca sai de lá), A Trégua, de Mário Benedetti. Este, juntamente com o
argentino Júlio Cortazar, precisaria ser cogitado como autor a constar na minha lista dos melhores e mais queridos livros que li.
Ler é sempre muito bom e,
ultimamente tenho adotado a ideia de Rubem Alves (outro que compensa
ler), de que vale a pena dar uma enxugando na estante e gastar nosso
tempo apenas com as leituras especiais. Bons autores e leituras seminais, no entanto,
são um jato de água fria em nossas tentativas de escrever. Embora, goste muitíssimo e, de alguma forma, até precise de escrever, tenho ficado cada vez menos propensa a fazê-lo.
Depois que li Guimarães Rosa, e, apenas algumas páginas de Proust, tudo o que
eu escrevo parece bobagem.
Lembro-me, tentando interromper esse assunto
sem fim, quando estava prestes a deixar
um trabalho de tempo integral e um amigo aconselhou-me que não, dizendo: o que você vai fazer com o seu
tempo? Sem pensar, respondi: - Vou ler
poesias. Desde então, tenho lido bastante,
mas ainda muito pouco, diante da imensidão de possibilidades de boas leituras
que temos.
Quanta à relação dos dez, deixemos. Uma vida
de leitura não cabe numa lista.
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