quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Balanço de um Ano na Corda Bamba

O ano está acabando e o que fizemos?

- Passamos o ano fazendo peripécias para seguir de pé, resistindo até por sobreviver. Assim tem sido para todos nós. Um pouco melhor que no ano passado; os ânimos renovados com a maioria da população brasileira vacinada, apesar do negacionismo do governo. Para mim foi também um ano de reconhecer e agradecer por privilégios, como por exemplo, morar em frente a uma área de preservação ambiental (APA), e poder cuidar dela.

Yuca mexicana florida na APA (Área de Preservação
 Ambiental) em frente de casa

Esforçamos para seguir esperançosos como sempre, equilibrando entre dores e pesares e alegriazinhas construídas a duras penas.


Alamanda e Manacá: o bosque nunca
esteve tão bonito

Deixando fluir a Polyana que existe em cada um de nós, sigo tentando encontrar algo de positivo nesse ano que se vai. O que houve de bom? Plantamos e lemos mais. Intensificamos essas duas boas práticas, o que não é pouca coisa. Caminhadas, que já faziam parte de minha rotina há mais de 20 anos, também se intensificaram. Precisei delas mais que nunca. Para manter o peso e controlar a pressão arterial; para não enlouquecer de vez.

Mini flamboyant

No entanto, o exemplo de Polyana não foi suficientemente forte para deixar que me esqueça que, bebemos mais, viajamos menos (quase não viajamos), tivemos mais pesadelos, ficamos mais tempo ao celular.

Lemos mais mulheres


Lemos mais

Vamos nos esforçando para manter o coração sensível e  sustentar sorrisos, mesmo que muitas vezes sarcásticos. Não tem sido fácil o exercício para que nosso olhar não se torne indiferente às mazelas do mundo, 

Enfim, há uma suave alegria, entre lágrimas e dores, pois sobrevivemos. Espero que melhores.

Que em 2022, sigamos resistindo e  mantenhamos a esperança!



Para perfumar o ano novo: Artemísia 

 e Alfavaca doce



domingo, 19 de dezembro de 2021

Poeminha de Natal com Cara de Cordel

Vem chegando o Natal

E quero comemorar

Nesse grande nascimento

Insisto em acreditar.

Não no mundo virtual

Onde estamos a viver.


Há muita pressa e correria

Para vender e comprar.

 

Vou armar o meu presépio

 E fazer doces no tacho

            Colher uvas na parreira. 

Presentear com panos de prato

Mesmo com tanta propaganda

Vou valorizar o artesanato.

 

Colher uvas na parreira: uma grande alegria 
Foto: Dayze Magalhães Gonçalves

Há muita pressa e correria

Para vender e comprar.

 

Sei que há gente muito esperta

Na publicidade ardilosa

Anunciando a bem querência

Em conversas de falastrão

Usando velho e criança

Sem regras nem contenção.

 

Há muita pressa e correria

Para vender e comprar.

 

É triste ver que para muitos

Não haverá presentinhos

Existe tanta injustiça

E  pouca a solidariedade.

Mas continuo acreditando

Num mundo de mais igualdade

 

Há muita pressa e correria

Para vender e comprar.


            Nesses tempos  de internet

Conversa fiada a vontade

Vigiados por algoritmos

Fartos golpes, muita fraude

Disso estou enfarada

Procuro cristãos de verdade.


 Há muita pressa e correria

Para vender e comprar.


Quero ouvir a cantoria

Anunciando a boa nova

Resgatar as tradições. 

Reacreditar na alegria,

Ver se o mundo se renova

Com amor nos corações.

Figos no tacho: tradição de Natal




terça-feira, 30 de novembro de 2021

Mama África

 Natural da Zambézia,  região central de Moçambique na África, a escritora Paulina Chizane, com seu livro, O Alegre Canto da Perdiz, foi agraciada recentemente com o maior distinção para escritores de língua portuguesa - o Prêmio Camões. O livro fala de sua terra, de sua gente, de suas lendas, crenças e mitos. Fala sobretudo, do sofrimento de seu povo.

O livro foi lançado em 2018

Depois de mais de quatro séculos de domínio português, Moçambique  tornou-se independente, em 1975. Desde 2001, a taxa média de crescimento econômico anual do  seu PIB (Produto Interno Bruto) tem sido uma das mais altas do mundo. No entanto, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e   a distribuição de renda situam-se entre os piores do planeta.

Foi muito bom conhecer a escritora e avançar nesse universo da literatura africana, praticamente inexplorado por mim. Pouco conheço à exceção de um ou dois livros de Mia Couto, e de outros tantos do argelino Albert Camus.

Pincei umas pérolas no livro da Paulina que merecem ser apontadas:

“- Há uma pessoa no abismo pedindo ajuda. A sociedade humana apressa-se a atirar paus e pedras, a pisar a mão com que te expressas por teu último desejo . P. 9;

- Eu tenho o destino do vento, e tenho a vida presa nas teias de uma esperança desconhecida. P. 13;

- As sociedades modernas produzem cada vez mais loucos e marginais como produtos de luxo. P. 25;

- O ventre da mãe é o único ponto de partida para todos os caminhos do mundo. P. 30;

- A partir de agora matem a palavre liberdade. Que a escravatura se chame descobertas. Que o massacre se chame civilização e a humilhação se chame conversão ao cristianismo. Que a submissão se chame fidelidade...P. 176”.

 

Nesse momento, alguns países europeus enfrentam novas ondas de infecções pelo corona vírus. A variante Ômicron descrita originalmente na África já foi detectada em  mais de uma dezena de países, pelo menos sete deles europeus. No entanto, fronteiras vem sendo fechadas apenas para países africanos. A notícia provocou  revolta, e dois escritores conhecidos mundialmente, o moçambicano Mia Couto e o angolano José Eduardo Agualusa denunciam a discriminação: “Mais uma vez, a ciência ficou refém da política. Uma vez mais, o medo toldou a razão. Uma vez mais, o egoísmo prevaleceu. A falta de solidariedade já estava presente (e aceite com naturalidade) na chocante desigualdade na distribuição das vacinas. Enquanto a Europa discute a quarta e quinta dose, a grande maioria dos africanos não beneficiou de uma simples dose. Países africanos, como o Botswana, que pagaram pelas vacinas verificaram, com espanto, que essas vacinas foram desviadas para as nações mais ricas.” (Disponível em: https://racismoambiental.net.br/2021/11/28/duas-pandemias-por-mia-couto-e-jose-eduardo-agualusa/).

 

Impossível deixar de vir à  cabeça os versos de Castro Alves, em Vozes da África:

“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?

Em que mundo, em que estrela tu te escondes

 Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito,

 Que embalde desde então corre o infinito...

 Onde estás, Senhor Deus?...

..............................

Basta, Senhor!

 De teu potente braço

 Role através dos astros e do espaço

Perdão para os crimes meus!

Há dois mil anos eu soluço um grito...

 escuta o brado meu lá no infinito,

Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...”

(disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000010.pdf)

 

Então a gente se pega a  cantarolar Chico César:

“Mama África

A minha mãe

É mãe solteira...

É tanto contratempo

No ritmo de vida de mama África”. 

Mama África (Disponível em: https://www.letras.mus.br/chico-cesar/45197/)

 

Tristeza e desolação. É o que temos para hoje.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Bruxarias Bem Brasileiras

 

Aventurar no mágico e atraente universo da bruxaria tem sido muito interessante. Caminhar por essa seara, é mergulhar em uma arena curiosa e  instigante. Mesmo que o faça por brincadeira, como é o meu caso, há muito o que descobrir e apreciar. Muitas são coisinhas fáceis, práticas corriqueiras  que podem trazer alguma leveza e incentivar a esperança, nesses tempos tão duros. Uma dosezinha de mistério pode ser  divertido e  aprender algo novo é sempre muito estimulante. Depois, se é para brincar e fazer farra, pra que buscar crenças e tradições de países muito mais pobres culturalmente do que o nosso? 

A seguir dez maneirasinhas de adentrar no universo das bruxas, todas fáceis e gostosas de praticar, porque já que estamos iniciando, começar pelo mais fácil é sempre mais animador. 

1 –   Fazer uma vassoura de alecrim do campo.

Varrer a casa, a varanda e  o terreiro, deixando tudo bem limpinho e cheiroso melhora as energias e levanta o astral. De quebra, ainda se pode colocar a vassoura atrás da porta, virada de cabeça pra baixo, caso apareça alguma visita indesejada.

Uma vassoura de alecrim do campo
Fácil de fazer e não custa nada


 2. Cultivar, fazer e tomar chás.

Para levantar o entusiasmo,  chás revigorantes, como o de alecrim da horta, com gengibre e hortelã são uma beleza. Caso esteja querendo e precisando relaxar e reduzir a  ansiedade, opte por um chá de capim cidreira, com casca de maçã e mulungu; ou de camomila, com folhas de maracujá e amora. Existem muitos chás cheirosos e gostosos, basta experimentar para escolher o que gosta mais. Fazer combinações de duas ou três ervas potencializa o efeito, mas é preciso tomar cuidado para harmonizar os aromas e sabores dos chás, de forma que eles não  “briguem entre si”.

3. Queimar ervas em uma fogueirinha.

A relação do homem com o fogo é mística e ancestral. Só quem já experimentou meditar diante de um fogo aceso pode entender a sensação boa que as labaredas luminosas e o crepitar de uma lenha em brasas são capazes de provocar. Acrescentar ervas secas bem cheirosas ao fogo vai potencializar o  seu efeito. Sugiro usar lenha bem seca e sem sinais de apodrecimento, ou ataque de insetos, para que o aroma das ervas não seja prejudicado por fumaça ou cheiros não desejados. Gosto de começar com ervas de limpeza como o eucalipto, a araucária e o alecrim do campo. Depois incinero ervas que tem o poder de energizar, fortalecer e acalmar, como alecrim da horta, o manjericão, a artemísia e a alfavaca doce. Essa é  um luxo raro,  erva difícil de encontrar, mas de cultivo fácil.

Ervas desidratadas para fazer 
a fogueira mais cheirosa

 4. Tomar um  banho poderoso.

Um punhadinho de sal grosso diluído em água morninha jogado ao corpo, após o banho de higienização é um ritual antigo e revigorante. Segundo crenças milenares essa prática é capaz de afastar diversas “macacoas”, limpar e jogar pelo ralo desânimos e energias negativas.

 5. Fazer e tomar uma sopa afrodisíaca.

Principalmente no inverno, uma sopa feita com ingredientes frescos e naturais é uma refeição leve e restauradora. Se você quer ainda acrescentar uma pitada de sensualidade e bom humor,  uma sopa afrodisíaca é boa pedida.  Que tal um caldo bem revigorante, feito com mandioca, moela de galinha, cebola, pimenta malagueta, gengibre e uma pitada de açafrão?  

 6. Velas perfumadas.

Acender e distribuir velas  pela casa, colocando-as em um pires com uma pitada de sal grosso ao lado e um pau de canela é um ritual muito poderoso. Podem-se usar simples velas brancas, ou velas aromatizadas com cascas de laranja, canela, alecrim e muitas outras. Você pode fazer isso recitando uma prece e, ou colocando uma intenção, o que fortalece a prática.

 7. Soprar canela moída.

Se o desejo é de purificar a casa toda, livrando-a de energias negativas e abrindo espaço para  a harmonia e a prosperidade então o mais recomendado é encher uma colher de sopa com canela moída e, a partir da porta principal da entrada da casa, soprar  o pó de canela no ar. Ao ir expressando desejos de limpeza e prosperidade deixe que o cheiro dessa deliciosa especiaria abra caminhos para que  seus pedidos se realizem.

 7. Plantar um vaso de sete ervas e colocar na porta da casa.

Essa também é das antigas e, segundo os crédulos, é das muito poderosas. Além da mágica tem a boniteza. Fica  lindo um vaso com Alecrim da horta, Arruda, Comigo ninguém pode, Espada de São Jorge, Guiné, manjericão e  pimenta.  Com tanta erva mística nessa composição, dificilmente seus efeitos benéficos não serão sentidos pelos moradores da casa. Se não der para plantar e cultivar todas, colocar apenas um pé de pimenteira na porta da casa ou no jardim já traz efeitos benéficos ao ambiente.

Uma pimenteira alegra, enfeita e 
protege. Palavra de bruxa.

 

8. Adquirir e usar um amuleto poderoso.

Portar consigo amuletos e patuás é hábito comum entre muitas pessoas. Os amuletos mais comuns são as figas, as sementes de olho de boi, e os breves de pano, ou patuás. Dentro destes vão ervas desidratadas, como  a arruda, o alecrim da horta  e o manjericão. Juntamente ou não, pode-se colocar  uma oração para seu santo de fé ou  anjo da guarda.

Um breve de pano 
Olho de boi é amuleto poderoso

 










9. Adotar um gatinho abandonado.

Toda bruxa que queira ser chamada como tal, deve ter um bichano, se for pretinho, melhor ainda.

10. Fazer um banimento geral na casa.

Pode-se começar pelo guarda roupa e alcançar até as redes sociais. Descartar objetos quebrados, defeituosos e sem uso, doar roupas e calçados excedentes. Bloquear falsos amigos e pessoas desagradáveis de suas redes sociais e de sua vida. Se fizer isso na lua minguante o efeito será ainda mais confortador.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Agostos

  

Andamos procurando atenuantes para esses tempos difíceis. Acho consolo nas flores e nas palavras. Rubem Alves disse sabiamente:

“Uma das missões da poesia é colocar palavras no lugar da dor. Não para que a dor termine, mas para que ela seja transfigurada pela beleza.”.

Algumas catleas florescem 
em agosto




Nos agostos secos e empoeirados como costumam ser esses meses por aqui, somos reanimados pelas belezas das orquídeas, especialmente os dendróbios, que costumam ficar exuberantes nessa época do ano. Drummond outro mineiro mestre das palavra, certamente abalado pelas dores do seu tempo, declarou poeticamente: “Entre as desesperanças da hora, e à falta de melhores notícias, venho informar-lhes que nasceu uma orquídea” *. 

Os dendróbios são muito comuns
nesta época do ano

É verdade que boas notícias andam escassas, mas parece que as orquídeas nunca estiveram tão bonitas. Ainda bem que, apesar de tudo,  há cheiro de celogine no ar.

Celogine linda e cheirosa

 

·         (Carlos Drummond de Andrade em Nasce uma orquídea, crônica publicada originalmente no Jornal do Brasil em 1970).