Durante
um bom tempo, andei pensando que bichos e jardins não combinavam. Tivemos uma
cachorra em casa e não fácil o convívio dela com as plantas. Como não queríamos
tê-la presa principalmente à noite, para melhorar a segurança da casa, tivemos
que treiná-la para não mexer nas plantas e nos canteiros. O que não foi nada
fácil.
Além
disso, e quem tem um jardim sabe muito
bem, há a eterna luta contra formigas, lagartas e lesmas e a não menos
trabalhosa peleja contra pulgões
cochonilhas e outras praguinhas menores,
porém não menos incômodas.
Mas,
como quase tudo na vida, quando o assunto são os bichos no jardim, também tem o lado positivo.
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Beija-flor. Foto Laene Mucci |
Ando
encantada e com o olhar mais atento aos bichinhos do jardim. Tenho descoberto muita belezas e, como diria
Guimarães Rosa, diversas interessâncias. Os passarinhos são os meus preferidos - Esse
bicho danadinho e que invejo tanto, por conseguir viver na terra e nas alturas ao
mesmo tempo. Num passe de mágica alçam voo e vão pousar na grimpa da árvore do
outro lado da rua. Quando não desaparecem para mais longe. Os beija-flores são
um capítulo à parte. Para mim, são quase um mistério. Nosso olhar não consegue
visualizar seu movimento de asas e ele parece suspenso no ar. Segundo lendas
que ouvi na infância, é um animal sagrado; uma maldição recai sobre quem lhe
persegue ou destrói seus ninhos. Se é verdade, ninguém sabe, mas é bom que se
pense que é. Pra que mexer em ninhos ou incomodar bichinho tão bonito e benfazejo? Tem muitos outros passarinhos
bonitos que frequentam o meu jardim: canarinhos, bem-te-vis, sabiás e até o
sahi, pouco comum nessa nossa pobre região tão desmatada, anda aparecendo no pé
de manacá.
Joaninhas também são uma belezura. De tamanhos, formatos e cores variadas, não aparecem sempre, ou dificilmente as vemos. Os grilos, da mesma forma. E tem as borboletas, lindas, leves, coloridas, verdadeiras cores bailando. Difícil acreditar que antes de terem asas sejam capazes de trucidar nossas folhagens!
Como temos diversas bromélias no jardim, aparecem também muitas pererecas. Interessantes de observar, dorminhocas e sossegadas, são uma benção no combate às larvas de mosquitos e pernilongos.
Perereca dorme profundamente na bromélia |
Joaninha, uma lindeza |
Pássaro Sahi, pousado no tronco do manacá, quase confunde com a orquídea Vanda |
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Canários. Foto: Laene Mucci |
Até as feiosinhas lagartixas acabam sendo
muito bem vindas pois também ajudam no combate aos insetos indesejados.
Costumo
dizer que o jardim é uma escola. Aprendemos muito observando, mexendo e
pensando sobre o turbilhão de vida e mudanças que nele acontecem a todo
instante. Quanta diversidade e renovação! Porque o jardim nunca é o mesmo em
outro dia. Para nós que vivemos nas cidades cada vez mais cimentadas, é nesses pequenos oásis, que usufruímos uma minúscula amostra da belezura, da grandeza e da diversidade desse nosso planeta
abençoado. Gavião carcará. Foto Marcella Pônzio |
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