Por Maria Inês do Carmo
Antigamente os animais falavam. Conta uma velha fábula que a caça estava rara e a onça andava com fome. Então, querendo
comer o seu compadre gato, pediu-lhe que a ensinasse a pular. Prestativo, o
gato não se fez de rogado, marcou dia e hora para as aulas.
Nas primeiras lições o gato ensinou os pulos básicos:
para saltar para frente comadre onça, mantenha as patas traseiras firmes no
chão e concentre o peso do corpo sobre elas. Com as patas dianteiras levemente
flexionadas, marque uma distância de um metro, fixe o olhar nesse ponto, dê um
impulso jogando-se para frente e pouse o corpo com leveza no ponto. Caia o mais vagarosamente possível, pousando primeiro as patas dianteiras com o corpo bastante
relaxado e depois, coloque as patas traseiras no chão com delicadeza e
flexibilidade.
Assim dizendo deu um gracioso pulo para frente, mostrando
com um exemplo prático, o que acabara de ensinar. E assim fez com diversas
outras modalidades de pulo, sempre descrevendo em detalhes precisos os passos a
serem seguidos para se empreender o pulo e depois realizandos-os, para mostrar
bem teoria e prática.
No entanto, quando o gato ia mostrar o último pulo
planejado, encerrando com chave de ouro suas aulas, a onça jogou-se sobre ele com intenção explícita de comê-lo. No mesmo instante o gato, pulador
experiente e grande conhecedor de tudo que já havia sido ensinado sobre pulos
de felinos, empreendeu seu mais genial e criativo salto. A onça desapontada e
boquiaberta ainda foi cara de pau o suficiente para dizer:
-- Mas compadre gato, esse pulo você não me ensinou!
E o gato altivo respondeu:
-- Nem tudo os mestres ensinam a seus alunos.
Isso foi nos tempos de antigamente, quando os animais
apenas falavam.
Hoje os animais não só falam, como usam o laptop, o
note book, o ipod, o telefone celular com mil funções e muito mais.
Então as aulas que o gato dava para a onça, contavam
com os recursos mais modernos da tecnologia da informação e o curso era
oferecido à distância. Todos os pulos foram esquematizados em ricas apresentações
em power point, que eram repassadas, juntamente com as instruções em detalhes,
à onça, que morava do outro lado da mata e recebia as aulas pelo sistema de
vídeo conferência.
Mas todo curso à distância que se preze, tem pelo
menos um encontro presencial e foi nesse que a onça pediu ao gato que lhe
mostrasse na prática pelo menos um dos pulos mostrados no datashow. Também nos
tempos modernos, o gato não se fez de rogado e empreendeu seu pulo da aula nº
5, mostrando na prática como a teoria funcionava. No entanto, ao acabar de
saltar, a onça, que havia aprendido muito bem todos os pulos ensinados, saltou
sobre ele, com a clara intenção de comê-lo. Também dessa vez, para escapar-se
do ataque inesperado, o gato empreendeu um genial e criativo pulo, que não
havia sido descrito nas apostilas, nem apresentado nos esquemas do power point.
A onça, ainda mais descarada que a sua ancestral, então disse:
-- Mas compadre, esse pulo não foi ensinado no nosso
curso!
E o gato teria respondido:
-- Esse pulo, comadre, eu acabo de inventar.
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