quarta-feira, 15 de agosto de 2012


MEDIANERAS

Quem não gosta de assistir um bom filme? Recentemente minha amiga Sandra Taranto, cinéfila das boas, recomendou-me assistir Medianeras. Costumo correr atrás das sugestões dela, pois são, na maior parte das vezes, ótimas indicações. Nesse caso específico fiquei ainda mais curiosa, pois tenho uma amiga com o nome de Medianeira, o que não é muito comum.
Mais uma vez, valeu a pena. Sugiro e recomendo. O filme é ambientado em Buenos Aires. Vista por uma arquiteta, a personagem feminina principal, a cidade é mostrada em suas contradições, onde, tem sido instalada uma Cultura do Inquilino.  Mas a história bem que poderia ter sido no Rio, de Drummond: “Nesta cidade do Rio de dois milhões de habitantes, estou sozinho no quarto. Estou sozinho na América” (Carlos Drummond de Andrade em A Bruxa). Ou em qualquer outra grande cidade, onde as pessoas cada vez mais se isolam em seus pequenos espaços individuais, ou “caixas de sapatos”, como são referidos no filme.
O tema não podia ser mais atual: a solidão moderna, nessa época de relações virtuais. Uma questão tão em voga  é posta sem meias palavras: “a internet me aproxima do mundo, mas me afasta da vida”, diz um dos personagens . Olhando para  a cidade repleta de cabos, alguém pergunta: cabos servem para nos unir, ou nos separam mais?
Neuroses modernas e predominantemente urbanas são mostradas com bastante humor, ficando claro que não é fácil  aplacá-las mesmo a custa de muito rivotril. 
Embora parte da crítica brasileira tenha sido parcimoniosa, o filme foi considerado por Rubens Ewald Filho, um dos mais respeitados comentaristas de cinema do Brasil, como “um filme encantador e agradável”, tendo recebido o prêmio de Público da Mostra Panorama no festival de Berlim e a da Mostra competitiva do Festival de Gramado, em 2011.
Medianeras explora com precisão a difícil  busca do outro, fazendo uma analogia com o livro-jogo Onde está Wally, para mostrar como na grande cidade isso fica praticamente impossível.  Numa das cenas mais engraçadas a arquiteta procura o personagem com o auxílio de uma lupa e, ainda assim, não consegue encontrá-lo.
Para os que gostam de arquitetura, o filme é um prato cheio. Tal é a sua importância que esse aspecto tem sido mencionado como o terceiro protagonista. Desde o início o personagem masculino avisa: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar... a falta de comunicação..., a depressão,..., as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade..., os estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e dos incorporadores.”
A arquitetura justifica o título do filme que, somente é elucidado perto do final: Medianeras são paredes cegas que dão para prédios vizinhos e onde não pode haver  janelas, sendo muito usadas para publicidade.  A ausência de janelas fomenta o isolamento e a solidão que são mostrados de maneira implacável nesses tempos de excesso de possibilidades de comunicação e de relacionamentos virtuais.

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