MEDIANERAS
Quem não gosta de assistir um bom filme? Recentemente minha amiga Sandra Taranto, cinéfila das boas, recomendou-me
assistir Medianeras. Costumo correr atrás das sugestões dela, pois são, na
maior parte das vezes, ótimas indicações. Nesse caso específico fiquei ainda
mais curiosa, pois tenho uma amiga com o nome de Medianeira, o que não é muito
comum.
Mais uma vez, valeu a pena. Sugiro
e recomendo. O filme é ambientado em Buenos Aires. Vista por uma arquiteta, a
personagem feminina principal, a cidade é mostrada em suas contradições, onde, tem
sido instalada uma Cultura do Inquilino. Mas a história bem que poderia ter sido no
Rio, de Drummond: “Nesta cidade do Rio de dois milhões de habitantes, estou
sozinho no quarto. Estou sozinho na América” (Carlos Drummond de Andrade em A
Bruxa). Ou em qualquer outra grande cidade, onde as pessoas cada vez mais se
isolam em seus pequenos espaços individuais, ou “caixas de sapatos”, como são
referidos no filme.
O tema não podia ser mais
atual: a solidão moderna, nessa época de relações virtuais. Uma questão tão em
voga é posta sem meias palavras: “a
internet me aproxima do mundo, mas me afasta da vida”, diz um dos personagens .
Olhando para a cidade repleta de cabos,
alguém pergunta: cabos servem para nos unir, ou nos separam mais?
Neuroses modernas e
predominantemente urbanas são mostradas com bastante humor, ficando claro que
não é fácil aplacá-las mesmo a custa de
muito rivotril.
Embora parte da crítica
brasileira tenha sido parcimoniosa, o filme foi considerado por Rubens Ewald
Filho, um dos mais respeitados comentaristas de cinema do Brasil, como “um
filme encantador e agradável”, tendo recebido o prêmio de Público da Mostra
Panorama no festival de Berlim e a da Mostra competitiva do Festival de
Gramado, em 2011.
Medianeras explora com
precisão a difícil busca do outro,
fazendo uma analogia com o livro-jogo Onde está Wally, para mostrar como na
grande cidade isso fica praticamente impossível. Numa das cenas mais engraçadas a arquiteta
procura o personagem com o auxílio de uma lupa e, ainda assim, não consegue
encontrá-lo.
Para os que gostam de arquitetura,
o filme é um prato cheio. Tal é a sua importância que esse aspecto tem sido
mencionado como o terceiro protagonista. Desde o início o personagem masculino
avisa: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência
familiar... a falta de comunicação..., a depressão,..., as neuroses, os ataques
de pânico, a obesidade..., os estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos
arquitetos e dos incorporadores.”
A arquitetura justifica o
título do filme que, somente é elucidado perto do final: Medianeras são paredes
cegas que dão para prédios vizinhos e onde não pode haver janelas, sendo muito usadas para publicidade. A ausência de janelas fomenta o isolamento e a
solidão que são mostrados de maneira implacável nesses tempos de excesso de
possibilidades de comunicação e de relacionamentos virtuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário