Dia das bruxas vem ai. É logo
depois de amanhã e tem polêmica nas redes sociais. Alguns, entre os quais me
incluo, criticam a mania de boa parte da população brasileira de imitar costumes
estadunidenses. Por lá parece que a farra é boa nesse dia, especialmente para
as crianças, que já desde cedo são incentivadas a obter benefícios na base da
troca, ou pior: da ameaça. Gostosuras ou travessuras, bradam os pequenos. Caso em
alguma residência, não obtenham o que pediram, estão autorizados pelos pais e pelo
costume a jogarem sujeiras, rabiscarem os locais, ou fazer algumas malcriações.
Outros, principalmente pessoas religiosas fundamentalistas (e como
anda tendo esse tipo de gente no Brasil nos últimos tempos!), vivem bradando
que o uso de fantasias horripilantes, maquiagens cadavéricas e assombrações feitas
de abóbora são “coisas do encardido” e que tais costumes devem ser renegados, porque abrem as portas para a entrada do dito cujo nas famílias e nas casas.
Embora considere a festa no modelo mencionado uma bobagem, mais um americanismo entre muitos
outros, a comemoração por si mesma de um dia dedicado às bruxas soa-me até como
algo bastante simpático, porque tenho admiração por elas e às vezes até me sinto
uma delas.
Rosas e vela branca, além de espada de São Jorge, flores de cebola e alecrim entre outras ervas: uma bruxariazinha de vez em quando faz muito bem. |
Bastante tempo depois, no
século XII, a freira alemã Hildegarda von Bingem foi a primeira pessoa a
registrar as propriedades do lúpulo, em artigo escrito e publicado. Essa freira, que depois foi elevada à categoria de santa, foi uma das primeiras médicas que
elaborou estudos bioquímicos ainda hoje prevalecentes, sendo mentora de algumas
correntes atuais da nutrição e da medicina. Pouca gente já ouviu falar dela, e
alguns preferem classificá-la como uma bruxa, uma mulher misteriosa detentora
de muitos segredos.
No entanto, para falar de bruxas e comemorar seu dia, nem
precisamos ir tão longe na história. A cantora e compositora Rita Lee, uma
mulher independente e desbocada, jamais se furtou a assumir o seu lado bruxa,
especialmente no período da velhice. Antes já dissera que “mulher é bicho esquisito,
todo mês sangra” e gravado a música Bruxa Amarela
E vejo a bruxa cruzando a grande lua amarela
......................................................................”
Considerando-me uma delas,
não posso duvidar de sua existência. Vivem disfarçadas em mulheres comuns, donas
de casa, mães de filho, jardineiras, benzedeiras, escritoras, cozinheiras,
fazem não uma, mas centenas de bruxarias por dia. Fazem parto, curam umbigos,
benzem, consolam e reanimam, realizam verdadeiros milagres ao manobrarem seus horários entre trabalho, casa, cuidados
com filhos e idosos, entre tantas coisas mais. Merecem ser comemoradas.
Um irrepreensível tratado sobre a alma feminina. Como sempre a Professora Inês desbrava desnuda a condição humana com rara competência. Traduz a humanidade de forma de firma comovente. Nos acalma.
ResponderExcluirComentado por Bernadete Lage
ResponderExcluirExcelente crônica. A humanidade sempre teve medo de mulheres que voam. Sejam elas bruxas, sejam elas livres.
ResponderExcluirQue texto extraordinário, explicativo e principalmente atual. Também não duvido da existência delas pois como você explicou como exemplo nossa eterna Rita Lee foi o exemplo de uma bruxa que ajudou a libertar as mentes de muitas mulheres. Parabéns pelo texto
ResponderExcluirPois é, todas nós, mulheres , somos sim um pouco "bruxas". No aperto, fazemos mil e uma magias: benzemos, fazemos chá, energisamos e curamos. Temos uma conexão direta com o criador. Parabéns, amiga, seu texto, como sempre, é leve e profundo. Magia ...abraços.
ResponderExcluirMedo de bruxas, não tenho; respeito-as porque acredito que elas existem, materializadas em mulheres que conseguem voar!
ResponderExcluirMuito pertinente essa sua cronica! Parabéns!