terça-feira, 31 de janeiro de 2017

RESENHA DE LIVROS - HOMEM COMUM, DE PHILIP ROTH

HOMEM COMUM – Philip Roth (Trad. Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2007).

Sempre comemoro quando encontro bons livros que sejam ao mesmo tempo curtos, o que costuma ser raro. Homem Comum tem esse mérito, além de não ser pretensioso. Trata de temas angustiantes como doenças e morte, de forma leve e até com certa dose de humor.
É impagável e hilário o relato da gafe do psicanalista que insistia em diagnosticar como inveja, uma crise de apendicite.
O protagonista, como o próprio nome indica, é um sujeito qualquer, um publicitário de quem nem ficamos sabendo o nome. Muito mais do que detalhes de suas relações familiares, de suas peripécias amorosas ou mesmo de suas venturas e desventuras profissionais, ele nos conta de suas doenças e fala de morte. A começar por uma internação hospitalar, ainda criança, quando teve que ser submetido a uma cirurgia, e acabou presenciando a morte de seu companheiro de quarto.
Perpassando toda a narrativa, os episódios relacionados a doenças e seus tratamentos constituem o fio condutor da história. No entanto, é de vida que o livro fala o tempo todo, como diz o personagem: “Eu tenho uma preferência arraigada pela sobrevivência” (p. 52).
Demostrando possuir certa fixação com essas questões, o sujeito chega ao ponto de deixar deteriorar uma relação afetuosa que mantinha com o único irmão. Não por inveja da brilhante e bem sucedida carreira profissional, ou do dinheiro que este possuía, mas porque não suportava constatar que, ao contrário de si, o irmão tinha uma saúde perfeita.
Muito mais do que o enredo, o que atrai no livro é escrita primorosa. É memorável, visceral, a descrição dos detalhes do lento enterro do pai do personagem, que culmina com uma frase curta e contundente: “Ele vira seu pai desaparecer do mundo centímetro por centímetro” (P. 49).
Ao fim, não pude deixar de fazer uma analogia com o mestre Caetano Veloso, que lá nos inícios dos anos 1980, já cantava lindamente:
“Sou um homem comum.
Qualquer um
Enganado entre a dor e o prazer
Hei de viver e morrer
Como um homem comum ... (Caetano Veloso em: Peter Gast)

Nenhum comentário:

Postar um comentário