A DIFÍCIL E DELICADA ARTE DE GERENCIAR PESSOAS
A disciplina
Administração de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas é constituída por um
conjunto de teorias, técnicas e métodos aplicados às organizações e formam o campo de conhecimentos da área. No
entanto, lidar com pessoas é bastante complexo e envolve uma amplidão de
aspectos difíceis de serem plenamente alcançados em apenas uma disciplina. Assim,
conhecimentos, teoria e técnica, nesse campo, possuem aplicações limitadas.
Ao refletir
sobre essa área e, claro, ao atuar nela, é inevitável que apareçam, inseguranças,
anseios e dúvidas. Afinal, estamos lidando o que há de mais precioso e complexo
na natureza – o homem. Via de regra, essa é a postura daqueles que se
aprofundam nesse universo mais que
desafiador: compreender e relacionar com gente, em especial, no âmbito das
organizações que, na maior parte das vezes, constroem ambientes competitivos,
inseguros e estressantes. Alinhamo-nos entre aqueles que reconhecem as
dificuldades da gestão de pessoas e entendem o tamanho do desafio que ela
representa - o que não significa que desprezamos técnicas, conceitos, métodos e teorias. Ao
contrário, valorizamos bastante o que está nos bons livros, nas revistas sérias
e em alguns sítios da internet.
Existe um
recorrente debate em torno da polêmica: administração é uma ciência, um conjunto
de técnicas ou uma arte? Deixemos a questão de lado. Partimos do pressuposto de
que a administração e, especialmente a gestão de pessoas, sejam tudo isso ao
mesmo tempo e que esses campos do conhecimento não podem ser facilmente
definidos e rotulados. E que ciência e arte não sejam polos excludentes.
Lembramos que
até mesmo a mais pura arte, que existe sem pretensão de resolver problemas
práticos da vida humana, não prescinde de técnicas e conhecimentos. A
administração, em todas as suas especialidades, utiliza-se de um vasto conjunto
de métodos e processos, desenvolvidos e testados, especialmente ao longo dos
últimos 150 anos e que, quando aplicadas em contextos específicos, costumam
melhorar significativamente o desempenho das organizações. No entanto, torna-se cada vez mais difícil, alcançar
essa melhoria de desempenho, baseando-se apenas em teoria e técnica. Tem sido
necessário adicionar intuição, sensibilidade, boa fé, empatia e disposição para
comunicar-se permanentemente, visando não somente o desempenho organizacional
mas a qualidade de vida, a dignidade e o bem-estar das pessoas.
Cada dia mais,
a Gestão de Recursos Humanos tem se tornado o grande desafio das organizações
modernas. Sendo a nossa sociedade, uma sociedade de organizações e estas constituídas
por pessoas, reconhece-se cada vez mais, a importância da área. Como se sabe,
pessoas são todas diferentes e, no geral, apreciam ser tratadas de maneira
diferenciada. Já organizações, para funcionarem, necessitam de um mínimo de
previsibilidade. As normas, as regras, os disciplinamentos internos, até mesmo
a cultura organizacional, existem para conseguir esse intento.
Dois grandes
estudiosos da psicologia social das organizações nos alertam: “... o uso de
sistemas de papel como dispositivo racional para lidar com todos os problemas
[da atualidade das organizações burocráticas] tem-nos permitido certas
eficiências, mas às expensas de algum empobrecimento das relações pessoais e da
perda da auto identidade” (KATS; KAHN, 1976, p. 515). Dessa forma, cada vez
mais, somos levados a crer que, muito além da técnica, a gestão de pessoas
precisa ser vista também em sua dimensão de arte, envolvendo criatividade,
inovação e muita diversidade.
Como nos revelou
Nietzsche, “ [a arte] ... é a grande possibilitadora da vida, ... o grande
estimulante da vida. A arte existe para que a realidade não nos destrua".
Portanto, sensibilidade, talento,
criatividade e tantas outras dimensões humanas,
comumente ignoradas e até evitadas no mundo empresarial, são, a nosso
ver, aspectos importantes na gestão de pessoas, neste cada vez mais difícil e
complexo mundo moderno. A vida em sociedade demanda muito mais do que razão,
conhecimento e técnica e, para que sejam respeitadas, as relações humanas necessitam
ser orientadas por um modo de agir e pensar pautado pela regra de ouro
filosófica: “não fazer aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem”.
Tal regra, quando
praticada constantemente pode minimizar
os conflitos, o stress e a dificuldade de conciliar percepções e interesses,
tão próprios da nossa conturbada atualidade.
Teorias e
técnicas, na área de gestão de recursos humanos, são meras tentativas de obter
o desempenho e a conduta adequados ao desenvolvimento organizacional. Como
conseguir isso, sem tirar das pessoas o direito à individualidade, à liberdade
e ao crescimento?
Ainda não se encontraram respostas definitivas para essa pergunta. A percepção dos que estudam a área,
atuam nela e vivenciam permanentemente seus desafios, muitas vezes se orienta
para a perspectiva da administração também como arte. Nela, apesar de o gestor
não abrir mão de muito estudo e técnicas, nunca perde de vista a criatividade,
a intuição e, antes de tudo, a sensibilidade para se colocar no lugar do outro.
Lembro-me que uma das primeiras coisas que me foi ensinada, quando fiz, na graduação, uma disciplina ligada à Administração [Rural] foi o significado da palavra empatia, palavra que eu desconhecia até então, como alguns de seus estudantes também devem desconhecer, muito embora, às vezes, a gente a praticava sem mesmo perceber. O conceito de empatia que nos foi transmitido foi: "Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa se estivesse na mesma situação vivenciada por ela.". Quando um indivíduo consegue sentir as dificuldades, as dúvidas sobre ações, o prazer ou a satisfação do outro ao se colocar no seu lugar, desperta em si, a vontade de agir seguindo princípios morais e o “não fazer aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem”. A empatia é um dos fundamentos para a identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos quando submetidos a certos padrões de comportamento. Talvez por aí, tentando desenvolver e aprimorar a empatia em seus estudantes você consiga fazê-los meditar sobre como reagiriam outros indivíduos submetidos à normas de conduta propostas para incrementar o desenvolvimento organizacional. ...
ResponderExcluirOi, menina!
ResponderExcluirSaudade de você!
Gosto muito dos seu textos. Sua forma de comunicar: simples, despretensiosa, elegante nos envolve e nos "fideliza"como leitores seus.
Mas, como sou meio (melhor dizendo, muito) implicante, não posso deixar de observar que, o termo "gestão de pessoas" me incomoda muito. Só de pensar em pessoas "geridas", "gerenciadas" ou coisa semelhante, me dá "irc". Pode ser ignorância minha, admito... Quem sabe, me informando mais e melhor possa construir outro tipo de opinião. Conto com você! Parabéns e desculpe pela provocação.
Abraços especiais da prima e amiga, Ana Maria.
Olá Manoel e Ana, obrigada por visitarem frequentemente o blog e contribuirem com suas opiniões, sempre tão procedentes. Eu também vejo com bastante ceticismo essa proposta de gerir pessoas. Mas é o termo que prevalece, tanto nas organizações, quanto no mundo acadêmico. Ao trazer o tema, tenho a esperança de fazer alunos e leitores refletirem um pouco sobre a questão e perceberem o elevado grau de complexidade que a proposta comporta.
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