domingo, 31 de janeiro de 2021

CONVERSAS DE JARDINEIROS – Plantas Fáceis para um Jardim Bonito e com Pouco Trabalho

Quem não quer ter um jardim sempre lindo e que exige poucos cuidados? Por que geralmente quando pensamos em jardins bonitos imaginamos logo canteiros com muitas flores? Ou pensamos em espécies mais altas também fartamente floridas? É bom saber que tais plantas quase sempre exigem muita manutenção, envolvendo limpezas permanentes, às vezes diárias, envolvendo não somente a coleta de folhas e flores caídas, mas também a retirada de hastes florais murchas e ressecadas, além de outros cuidados. Espécies de grandes floradas quase sempre são anuais, ou sobrevivem por períodos bem curtos. Petúnias, impatiens (beijo de moça), sálvia (maria sem vergonha, ou alegria do jardim), lírios, rosas, hortênsias são todas lindas, mas são espécies que raramente permanecem bonitas e floridas por muito tempo. Resultado, para ficarem bonitas, precisam ser substituídas com frequência, ou exigem cuidados de poda, limpeza, irrigação e adubação constantes. A boa notícia é que para tem um bonito jardim, não precisa ter essa trabalheira. Melhor escolher espécies perenes, ou seja, aquelas que depois de adaptadas ao local não precisam ser removidas periodicamente. Ao contrário, muitas delas ficam mais bonitas com o passar dos anos. Para quem gosta de um jardim mais prático que dê pouco trabalho, é possível ter um espaço bonito o ano inteiro, desde que se escolham espécies cujos atributos vão além da beleza de suas flores. Plantas com formatos esculturais, folhagens exuberantes, ou com belos frutos ou sementes também enfeitam espaços ornamentais sendo atrações irresistíveis em jardins de fácil manutenção. Acompanhe a lista a seguir que se compõe apenas de algumas sugestões entre as muitas disponíveis, a depender do gosto de cada um e das características do clima, da umidade e da presença do sol no espaço destinado ao jardim.
Crótons – Com distribuição natural na Austrália, Indonésia e outras ilhas do Pacífico, o cróton é muito bem adaptado ao clima do Brasil, sendo fácil seu cultivo por aqui. Seu custo não é muito elevado, principalmente se a escolha for por um exemplar mais jovem e menor. Essa planta vive melhor e fica mais bonita em espaços que recebem sol pleno, porém tolera meia sombra. Nesse caso suas folhagens podem ficar menos exuberantes. Geralmente essa arbusto que não costuma passar de dois metros de altura, é uma planta destacada pelo colorido de suas folhagens, que mesclam diversos tons de verde com o vermelho, o alaranjado, o amarelo e até as cores rosa e roxo podem estar presentes dependendo da variedade escolhida. Algumas de suas folhagens além de coloridas, podem ser enroladas, franzidas e até pendentes. A floração do cróton é insignificante. Mas quem precisa de flores bonitas, quando se tem uma maravilha dessas?
.......................................................................................... Coração Rasgado ou Costela de Adão - Nativa do México, essa planta possui bonitas e grandes folhas verde escuras, em formato de coração e com fendas, ou espaços vazados, conferindo-lhe um formato muito peculiar. Costuma formar belas touceiras e pode também na medida em que vai crescendo, ser conduzida em formato de trepadeira tanto em troncos de árvores mais robustas, quanto em muros. Mas geralmente não chega a atingir alturas muito superiores a dois metros. Possui inflorescência pouco atraente dando origem a um fruto com formato alongado. Por esse motivo a folhagem costuma ser conhecida também como banana de macaco. É uma planta muito bem adaptada ao clima brasileiro e sobrevive bem tanto em sol pleno quanto na meia sombra. Não é muito fácil de ser encontrada em viveiros, sendo mais comum em floriculturas, onde geralmente possuem pequenos tamanhos e são vendidas, por preços bem atraentes. Quando transplantadas dos vasos para o solo, desde que sejam observados os cuidados necessários ao replantio, costumam desenvolver rapidamente.
Dracenas – Esse gênero de plantas é bem grande e abriga espécies variadas, quase todas de grande beleza. As dracenas são plantas perenes, ou seja não precisam ser removida periodicamente. De fácil manutenção e formato quase sempre escultural, elas florescem anualmente, soltando cachos de pequenas flores que, embora não sejam de beleza significativa, costumam atrair beija flores e insetos como abelhas e joaninhas. Seus atributos mais relevantes são o formato e o colorido das folhas alongadas. As Dracenas, em sua maioria são arbustos com altura variando entre pouco mais de um metro e até 3 metros. Mesmo as espécies mais atraentes e de folhas coloridas não possuem custo muito elevado. São também bastante utilizadas como planta de corte em arranjos florais. Se bem distribuídas e compostas com flores tropicais costumam ter resultados exuberantes. Embora sejam originárias da África, são bem adaptadas ao clima brasileiro. Quase todas preferem meia sombra, mas boa parte delas adaptam –se bem a terrenos com incidência de sol pleno.
Mussaenda – Ao observar a exuberância das cores dessa planta, a maioria das pessoas pensa estar diante de uma bela florada, o que não é totalmente verdadeiro. A grande atração da Mussaenda são as suas brácteas, ou folhas modificadas que contornam e enfeitam uma singular florzinha em formato de estrela. Essa quase sempre passa despercebida aos olhos dos menos atentos. Originalmente nativa da Ásia e da África, o arbusto que pode alcançar dois ou três metros de altura, costuma ser mais encontrado em três cores: branca, rosa e vermelha. Não é uma planta trabalhosa, adapta-se bem ao sol pleno e exige apenas uma poda de limpeza anual. Seu custo não é muito elevado, principalmente se adquirida jovem e com pequeno porte. Seu belo efeito ornamental em gramados bem cuidados chama a atenção durante o período da primavera estendendo-se geralmente por todo o verão.
Nolina ou Pata de Elefante – Originária da América do Norte e América Central, o grande atrativo dessa planta costuma ser seu tronco bastante ornamental com a base dilatada, lembrando a pata do animal que lhe dá o nome. Tem um aspecto escultural, com a haste robusta e a folhagem verde escura alongada que se agrupa em torno do eixo central e que pende no formato de vasta cabeleira. Anualmente, depois de adulta, a Nolina solta cachos florais na cor amarelo creme, no topo da planta, o que aumenta a sua beleza. A Nolina tem um crescimento lento, e exemplares com mais de um metro de altura costumam ter custo bem alto, apesar de ser uma planta facilmente reproduzida por intermédio das sementes. Ela tolera ser plantada em vasos e pode viver em ambientes internos, porém necessita de raios solares e bastante claridade. Mesmo nessa condição o crescimento torna-se ainda mais lento e com o passar do tempo a planta pode sentir. Até em viveiros de mudas, que possuem preços geralmente melhores que as floriculturas, um exemplar adulto já bifurcado ou trifurcado com mais de dois metros de altura, costuma ser vendido na casa dos milhares de reais. É uma planta que, tanto isoladamente como em conjuntos, confere elegância a jardins dos mais diversos tipos.
Palmeira Fênix – Nativa do Norte da África, sudeste da Europa e oeste da China, essa espécie é muitíssimo bem adaptada ao clima do Brasil e costuma ficar bem bonita por aqui. Sua mudas são facilmente encontradas em viveiros e lojas e seu custo é bem baixo. Tem um crescimento lento e raramente atinge altura superior a 2 ou 3 metros de altura. Isolada, ou em conjunto de três exemplares, rodeada por plantas mais baixas, ou apenas inserida no gramado, a Fênix é uma das palmeiras mais populares pelos jardins do Brasil afora. Além do formato interessante da palmeira, uma de suas grandes atrações são os cachos que expandem em hastes com os frutinhos, lembrando a imagem de um foguete explodindo no ar. Sua manutenção é fácil, exigindo apenas uma limpeza anual para retiradas das folhas mais baixas e dos cachos secos depois que os frutos acabam. Linda, fácil e de baixo custo, precisa de mais alguma atração?
Sagus ou Cicas – Pertencente à família das palmeiras, as cicas, popularmente chamadas também de sagus, ou palma de ramos, são originárias da Ásia, sendo das plantas mais antigas do mundo. Seu crescimento é bastante lento; os exemplares costumam “formar a roda” e adquirir seu formato pleno quando a planta se torna adulta ou atinge por volta de 80 cm a um metro de altura. Isso pode levar alguns anos, razão pela qual os exemplares costumam ter um preço bastante elevado. Geralmente um sagu com cerca de dois metros de altura, por exemplo, costuma ser comercializado por valores que alcançam quatro dígitos numéricos. É uma planta clássica e perene, que nunca sai de moda e costuma ser presença constante nos jardins tropicais mais elegantes. Embora, esporadicamente solte um “Cacho” em forma de espiga, ela não se reproduz por sementes, mas apenas pelo replante de mudas que brotam em torno da haste central da planta.

domingo, 24 de janeiro de 2021

PEQUENOS GRANDES LIVROS IMPERDÍVEIS

Nesses tempos de pandemia, tenho repetido que não é normal quem não tá surtado. Indo para um ano de isolamento social até os mais solitários andam sentindo falta de abraços, de reuniões com familiares e amigos e inúmeras outras atividades como ir ao um cinema, um show, por exemplo. Para quem nunca foi um exemplo de paciência, está cada vez mais difícil não andar irritada, impotente e ansiosa. Ler tem sido uma pequeno alento para quem não assiste televisão e anda se policiando para não ficar mais que algumas horas por dia ao celular. Embora seja uma leitora inveterada desde muito jovem, nesse tempos a leitura se tornou imprescindível, assim como minha predileção por livros pequenos. Raramente encaro livros com mais de 500 páginas. Descobrir preciosidades curtas na literatura é um deleite. Nesses tempos de muita ansiedade e pouca paciência pequenos grandes livros são descobertas dignas de serem compartilhadas. É o que faço aqui apresentando uma lista com 10 livros que têm menos de 200 páginas e que valem por um de 500. Vamos lá, em ordem alfabética de título, porque seria impossível apresentá-los em outra classificação.
1-A TREGUA: Mário Benedetti. - Prestes a completar 50 anos de idade e preparando-se para a aposentadoria, o protagonista Matim Santomé, é um homem fechado em si mesmo e pessimista. Leva uma vida simples entre o trabalho, a família e poucos encontros com amigos. Antes tomado pelas angústias que geralmente acometem os homens diante das perspectivas de deixar o trabalho, o personagem se transforma ao encontrar Laura, uma jovem com quem se envolve emocionalmente, produzindo um delicioso diário que é compartilhado nesse pequeno, porém magistral livro. “Ela me dava a mão e e nada mais me faltava... mais que beijá-la, mais que dormirmos juntos, mais que nenhuma outra coisa, ela me dava a mão e isso era amor”. ............................................................................................ 2 - CAIM: José Saramago. - Em uma leitura muito própria dada ao personagem bíblico que assassinou o próprio irmão, Saramago destila sua costumeira ironia, sendo um irreverente e mordaz intérprete de fatos narrados no livro do Gênesis do Antigo Testamento. Fazendo uma releitura do episódio bíblico, com um olhar cáustico e debochado e de acordo com suas próprias convicções, o autor apresenta, como na maioria de seus outros livros, uma crítica mordaz e contundente à sociedade moderna. ............................................................................................ 3 - CARTA A D: André Gorz. - Essa pequena pérola é uma preciosidade de apenas 102 páginas (a edição de 2018 da Companhia das Letras). Um dos mais belos livros que já li. Adoro livros em forma de cartas e este, se equipara ao dois outros grandes pequenos livros que amo: Di Profundis, de Oscar Wilde e Carta ao Pai de Franz Kafka. André Gorz, pseudônimo de Garhart Hirsch, austríaco naturalizado francês, era engenheiro químico, mas atuou a maior parte de sua vida como jornalista. Foi um grande filósofo com atividade política e tornou-se referência em temas como o trabalho e o sindicalismo. Foi também um crítico da mercantilização das relações sociais e se dedicou ao tema da ecologia ao final do século XX. Mas Carta a D é um livro de amor. Um dos mais comoventes que já pude ler e que recomendo fortemente. ............................................................................................. 4- ESSE OFÍCIO DO VERSO: Jorge Luis Borges. - Com menos de 130 páginas, o livro encerra um tesouro. A literatura de Borges, citado como um dos maiores escritores do século XX, considero-a difícil. Sua prosa, geralmente não muito acessível, porque carregada de surrealismo e representações simbólicas de compreensão não imediata, torna–se clara, direta e fácil nesse conjunto de seis textos/palestras proferidos pelo autor, nos quais discute sua obra. “Tenho para mim que sou essencialmente um leitor. Como sabem, eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é muito mais importante que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever” (P. 103). Comentando sobre diversos aspectos da produção literária, o autor apresenta uma introdução aos prazeres da palavra e ao laborioso e quase sempre muito difícil artesanato da literatura. ............................................................................................. 5. LEITE DERRAMADO: Chico Buarque. - Nosso maior compositor não faz por menos quando escreve romances. Em 195 páginas, Chico Buarque traça a história de quatro gerações. Leite Derramado traz uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica de um velho membro da tradicional família brasileira. A partir dos relatos e, ou delírios do personagem, Chico traça todo um panorama do Brasil do último século. Prestes a completar 100 anos de idade, e em seu leito de morte, Eulálio relata, como é capaz, a saga de sua aristocrática e decadente família. A história dele é a história do Brasil, contada por esse grande brasileiro e o maior intérprete da alma feminina que poderíamos ter. “Fora da música, você tem sempre essa nobreza de represar os sentimentos, que certamente lhe doem, como deve doer leite empedrado” (P. 130). ............................................................................................... 6 - MEMÓRIAS DE MINHAS PUTAS TRISTES: Gabriel Garcia Marques. - “Também a moral é um assunto de tempo” (P. 9). Um livro sobre a velhice e, por que não dizer, também sobre o amor. Um das últimas obras do colombiano Gabriel Garcia Marques, prêmio Nobel de Literatura e um dos mais importantes escritores do século XX. O protagonista, de quem o autor não nos diz o nome, é um homem prestes a completar 90 anos. Pessimista, incrédulo e até meio cínico, o personagem se reinventa ao final da vida, tomado de amores por uma jovem. Poderia, a partir desse enredo, se transformar em uma história clichê e banal. Não nas mãos de Gabo, o mestre da ficção latino americana. Tornar esse enredo simples em um livro deliciosamente romântico e bem humorado foi somente mais uma das peripécias literárias do autor de Cem anos de Solidão. Para quem ainda não se aventurou com Garcia Marques, começar por este livro curto e simples é uma ótima forma de se introduzir no universo literário do autor. .............................................................................................. 7- MORTE EM VENEZA - Thomas Mann. - Caracterizado por sua literatura lenta, pesada e pouco acessível, neste pequeno livro, Thomas Mann mostra uma escrita fluída e encantadora. Com um enredo simples narra a história de um homem envelhecido, Gustav Aschenbach, que viaja a Veneza (“...entrar em Veneza a não ser pelo mar, é como entrar em um palácio pela porta dos fundos”) e apaixona-se platonicamente por um jovem louro de nome Tadzio (Tadeu). Uma ode à beleza, à juventude e ao amor idealizado. A arte como único meio de eternizar a beleza. “... a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...)". .............................................................................................. 8- O ESTRANGEIRO: Albert Cammus. - Albert Camus, argelino de descendência francesa é um dos ícones da literatura do século XX. Falecido precocemente, ainda assim deixou uma obra memorável. Seu livro A Peste, que não consegui terminar de ler tal o realismo de suas descrições, costuma ser mencionado como sua obra prima. Mas eu amo O Estrangeiro, a história do homem que, quase por acaso acaba matando uma pessoa e enfrenta, com estarrecedora indiferença, um julgamento cruel. O que de mais trágico existe na condição humana vai brotando de suas poucas páginas com um realismo de fazer arrepiar. Todo o abandono e a impotência de um homem diante da estupidez da sociedade moderna e de seus inacreditáveis sistemas de justiça aparecem nesse pequeno grande livro de uma forma memorável. .............................................................................................. 9- QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada: Carolina de Jesus. - No registro de 18 de julho, Carolina desabafa: “quem escreve gosta de coisas bonitas. Eu só encontro tristezas e lamentos” (P.184). Esse livro deveria ser leitura obrigatória nas escolas brasileiras. Ele vale mais do que muitas aulas de história, sociologia e geografia. É um retrato fiel de um Brasil do qual temos vergonha. A autora catava materiais nos lixos no entorno da favela do Canindé, em São Paulo, de onde tirava o sustento para si e para seus três filhos pequenos. Uma mulher negra e semianalfabeta que, utilizando restos de cadernos e papel de embrulho que encontrava, ia registrando seu cotidiano sofrido. Demonstrando uma capacidade incrível de redigir, como uma repórter da favela, deixava fluir seu desalento diante do inaceitável abandono em que vivia. O seu diário deu origem ao livro que já foi traduzido em mais de 15 idiomas e que continua, ainda hoje como um retrato fiel da vida de milhares de brasileiros abandonados à própria sorte. .............................................................................................. 10 - UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES: Clarice Lispector. - Um encontro consigo, um encontro com o outro: é o que Clarice nos apresenta neste livro que começa com uma vírgula(,) e termina com dois pontos (:). “A vitalidade de camponesa é que salvava Lori de um mundo de emoções delicadas demais” (P. 171). A história nos enlaça porque percebemos que a busca de Lori é a busca incessante e interminável de todos nós. Não fica difícil sentir na pele as angustias da jovem professora interiorana que vive no Rio de Janeiro e experimenta um rotineiro mal-estar com sua própria existência, mas que a partir do encontro com Ulisses passa a questionar sua solidão. tCsbeocx9As/YA32gKsrASI/AAAAAAAANCM/ihT1CILNVtokRpHylNc1V448Z6Lgr7LUgCLcBGAsYHQ/s400/livros.jpg"/>

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

CONVERSAS DE JARDINEIROS: banho de ervas, conexão com a terra e com o sagrado das plantas

 

Além de encantar porque são lindas e cheirosas, algumas plantas possuem outros poderes. Viver no meio delas e praticar o seu cuidado costuma proporcionar paz e relaxamento. Seus benefícios vão além do prazer em apreciá-las. Há os que lhes atribuem poderes mágicos. Quem pode provar que não?

Plantas fazem parte de rituais e crenças, principalmente em datas carregadas de simbolismo, como é a virada do ano.  Acredita-se que algumas delas sejam revigorantes e curativas, carregando uma aura de misticismo, alimentada por virtudes a elas  atribuídas desde nossos ancestrais. Seriam capazes de potencializar forças da natureza em benefício dos que sabem lidar com elas. Supõe-se que atuam como um filtro, diminuindo a negatividade em ambientes, melhorando a energia e espalhando a paz.

O uso de ervas, em forma de banho, escalda-pés, chás e emplastros ou cataplasmas é prática entre diversos povos. Várias plantas se prestam a esses usos. Não se trata apenas de crenças e tradições populares. Há estudos e pesquisas concluídos ou em andamento,  sobre as propriedades medicinais de um sem número de plantas, sendo que algumas já fazem parte da composição de diversos medicamentos e, ou nutrientes, ou complementos alimentares.

O ano de 2020 não foi dos melhores, para  se dizer o mínimo. Por isso, agora nesse momento de virada, vamos usar de todos os recursos e artifícios de que temos notícia, para atenuar essa maré de má sorte.

Há uma lista enorme de plantas que podem ser usadas em forma de banhos de limpeza e reenergização. Para o preparo dos banhos que menciono aqui usam-se poções generosas das plantas, (meia dúzia de galhos ou hastes florais),  que devem ser colocadas em dois litros de água fervente. Tampa-se a vasilha e espera-se que  a água fique em temperatura própria para o banho. Essa deve ser jogada no corpo, depois do banho normal. Sugere-se uma secagem rápida e superficial.

 Selecionei sete plantas bastante comuns e fáceis de serem encontradas em jardins, quintais, hortas e feiras, com seus benefícios mais alardeados.

1.    Alecrim  -  acredita-se que o Alecrim possa trazer força e coragem a uma pessoa desanimada. Conhecida como a planta da felicidade e da prosperidade, o alecrim combate a depressão e eleva os ânimos. Tanto o banho quanto o escalda pés feitos com os galhos e as folhas da planta têm poderes revigorantes, além de possuir um cheiro cítrico muito agradável.













2.    Artemísia – além de proteção espiritual, a Artemísia desenvolve a intuição, e atua na conexão com o sagrado feminino. Suas folhas e pequenas flores brancas são utilizadas há milênios em forma de banho para tratar de problemas do aparelho urogenital e  também para acalmar e relaxar dores musculares.

Arruda: banho poderoso

3.    Arruda  -  o banho com essa erva poderosa é um aliado para afastar energias ruins e promove a limpeza espiritual e a proteção do corpo. Embora muitos pensem tratar de uma planta típica de religiões e ritos de matrizes africanas, a Arruda era usada desde a Grécia antiga e faz parte também de rituais cristãos.

4.    Guiné – nativa do Brasil, essa plantinha de cheiro acentuado é considerada mensageira de sorte. Um banho feito com suas folhas e flores pode aliviar dores pelo corpo sensação de cansaço e desânimo, renovando as energias. Recomenda-se evitar contato com as partes intimas, pois é uma planta com certo grau de toxidade.

Guiné 


Manjericão, cheiroso e curativo

5.    Manjericão – Largamente utilizado como tempero, o Manjericão possui propriedades incríveis, quando usado em forma de banho de limpeza. Seu cheiro é muito agradável e acredita-se que o seu uso serve para afastar a negatividade e o esgotamento físico, minimizando a angustia e o desânimo.


6.    Rosa branca – Muito empregadas na indústria cosmética, as pétalas de rosa branca quando utilizadas em banho promovem a limpeza física e espiritual. Além de atenuar a sensação de cansaço, esse banho atrai paz e tranquilidade, exalando fluidos benéficos e proporcionando sensação de relaxamento e bem estar.

7.    Sabugueiro  - essa planta linda e pouco conhecida de arbusto frágil e cachos brancos pode proporcionar um banho poderoso. Tem propriedades de reduzir a fraqueza diante de grandes desafios e atenua o  medo de perder o controle da situação; atua contra o desânimo e na reconstrução da auto confiança e da autoestima.

Sabugueiro

Para finalizar desejo um bom 2021 a todos e  replico  a mensagem  do meu sindicato: estamos aqui para semear esperança, ano novo é semente em nossa caminhada.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

TEMPOS DE NATAL SINGELO. TEMPO DE CAETANO

  

“E vejo e peço

Dias de Outras cores...” (Caetano Veloso em Noite de Crital)

 

Árvore brasileira, inspiração cerrado

Este ano pede um Natal com  celebrações singelas. Vamos substituir nossas reuniões maiores, festivas e animadas por encontro mais íntimo apenas entre os residentes na mesma casa. Creio que, entre nós, os cristãos, nem mesmo uma pandemia como a que estamos vivendo, justificaria deixar a data passar completamente em branco.

Aqui, além da celebração religiosa, compõem esse ritual de fim de ano, as tradições, os costumes e as crenças de família. Eles retornam para nos lembrar quem somos, para que não esqueçamos onde estão fincadas nossas raízes, por mais que distanciemos  delas.

Mesmo que a indústria e o comércio, com suas artimanhas intensivas vivam a nos massacrar dizendo que o Natal é um tempo de comprar e consumir cada vez mais, teimamos em manter as tradições e os costumes e as nossas crenças que nos direcionam. Valorizamos um paninho bordado a mão, um santinho de barro,  um arranjo de flores colhidas do nosso jardim, uma comida caseira, entre tantas outras delicadezas.

Cerrado inspira presépio

Reafirmamos nossa crença de que celebrar o Natal é armar o presépio e enfeitar a árvore, pensar no cardápio, preparar aqueles doces que demoram dias sendo elaborados. E, mesmo sendo somente para o pessoal de casa, animar-se a  escolher a melhor toalha, buscar aquela louça reservada, porque a época de Natal é, antes de tudo um tempo de dedicação e amor. E de expressar gratidão.

O que pode ser melhor e mais reconfortante, que os afetos nesses tempos de espanto, nesse turbilhão de incertezas e indefinições como são os dias atuais?

Dias no preparo dos figos de Natal

Tudo pode ser mais delicado ainda, se houver uma apresentação de Caetano Veloso, como a que acabamos de assistir pelas redes sociais. Ele esteve sereno e com o olhar quase triste, mas com sua poesia e sua música maravilhosas e uma presença marcante nesse espetáculo intimista, sem o excesso de sons e cores, habituais em apresentações de grandes artistas em fins de ano.

Um cenário minimalista, o palco só seu.  Caetano foi-se reafirmando grande na simplicidade, exaltou e recebeu em participação cada um de seus filhos; babou para os netos, relembrou e enalteceu amigos. Recordou com afeto suas origens, sua brasilidade. Falou de presépio, de infância e de cheiro de pitanga. Lembrou e cantou Assis Valente, denunciando, mais uma vez, nossa enorme desigualdade social: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”.

Em celebrações de fim de ano, costumamos pensar sobre essa entidade vaga, “tempo, tempo, tempo, tambor de todos os ritmos”. Caetano o tempo todo, destilou poesia e nos fez refletir: “Existirmos, a que será que se destina... ?” e não nos permitiu esquecer que “Gente quer ser feliz... Gente é para brilhar, não para morrer de fome”.

Generoso e modesto, o artista  sabe que é um dos maiores dos tempos modernos. Todavia, foi incapaz de deixar escapulir uma faísca sequer de arrogância, de altivez exagerada. Fez, merecidamente uma declaração de amor a “Sua branquinha, seu irmão” a mulher que  lhe assegura a  sustentação necessária para se manter ativo e moderníssimo, com quase oitenta anos de idade.  

Ele disse ao iniciar o relato de suas memórias de Natal que via “em torno da manjedoura, o mundo”. Nessa apresentação transmitida pela internet, vimos em torno de Caetano, o mundo. Gratidão.

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O POVO BRASIEIRO – Darcy Ribeiro

 

Inspirador, necessário e definitivo. Assim é O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil, esse livro magistral. É um daqueles que deveria ser leitura obrigatória em todos os cursos de graduação, nesse nosso país que sabe tão pouco de si mesmo.

Objeto de extensa pesquisa documental, não foi por acaso que este livro demorou trinta anos, sendo escrito e reescrito, antes de ser publicado, próximo à morte de seu autor, o antropólogo, professor e político brasileiro, Darcy Ribeiro.

Ao mesmo tempo que coloca o dedo nas feridas de nossas mazelas, descreve com maestria as dores do sofrido parto que nos originou, registando nossas origens muitas vezes nada edificantes.

Objeto de extensa pesquisa documental, na obra encontramos um relato singular sobre nós, sobre quem somos e como nos formamos enquanto povo e nação. Indispensável porque, como disse o autor "nenhum povo pode viver sem uma teoria de si mesmo".

O livro custou a Darcy Ribeiro uma vida inteira de pesquisas documentais e etnográficas e constitui uma  reflexão sobre os desdobramentos do confronto de culturas radicalmente distintas – a lusitana e a indígena.

A obra ajuda-nos a compreender muito de nosso complexo de vira-latas. Sendo, nossos ancestrais, fruto do cruzamento de portugueses, com mulheres indígenas nativas, fomos, segundo Ribeiro, vítimas de duas rejeições drásticas. Os brasilíndios não puderam identificar-se com os pais portugueses que os rejeitavam e “os viam como impuros filhos da terra”. As populações nativas indígenas, por sua vez, os desprezavam, porque segundo suas crenças e tradições, "... quem nasce é filho do pai e não da mãe...” Dessa forma, não podiam identificar-se com uns, nem com outros.

Ao nos apontar quem somos, como nos formamos enquanto povo e nação, o autor evidencia a violência direta, sexual e estrutural do processo de miscigenação conduzido por meio da subjugação da massa de indivíduos constrangidos, depreciados e desumanizados. E de como os africanos feito escravos que aqui forçosamente aportaram, se integraram à  etnia brasileira, encontrando já constituída  um início de civilização luso tupi, à qual foram obrigados a se incorporar e na qual tiveram que aprender a viver.

Evidenciando as qualidades singulares de nosso povo híbrido,  o livro desnuda a desigualdade e a brutalidade que se impõem no Brasil desde sua origem, e ajuda-nos a conviver com as cicatrizes de uma sociedade marcada pelo escravagismo e pelo latifúndio extrativista. Leva-nos a reconhecer as qualidades singulares desse povo mestiço, formado e enriquecido pela confluência de matrizes diversas, que se converteram em uma identidade brasileira, ajudando-nos a valorizar o potencial de nossa brasilianidade.

Essa obra prima é, antes de tudo, uma declaração de amor ao Brasil, uma reafirmação da admiração do autor por nossa gente e um manifesto de esperança em nosso futuro. Faz parte do sonho do antropólogo em ajudar a construir aqui, uma sociedade solidária e soberana.

Para finalizar deixo claro que essas poucas linhas que escrevo não são uma resenha, ou algo que possa dar uma ideia do conteúdo deste livro. Nada do que foi escrito sobre O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, será capaz de expressar a grandiosidade dessa obra. O que faço aqui é apenas um convite aos que ainda não o leram para que não deixem de fazê-lo o quanto antes.