Bem vindo à minha casa virtual. Aqui você encontra conversas sobre jardinagem, literatura, artes e artesanato, fatos do cotidiano e um pouco de administração e gestão de pessoas. Sinta-se convidado a participar delas. Como dizemos em Minas: "Caba de chegar que a casa é sua. É sempre bom trocar um dedinho de prosa".
domingo, 31 de janeiro de 2021
CONVERSAS DE JARDINEIROS – Plantas Fáceis para um Jardim Bonito e com Pouco Trabalho
domingo, 24 de janeiro de 2021
PEQUENOS GRANDES LIVROS IMPERDÍVEIS
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
CONVERSAS DE JARDINEIROS: banho de ervas, conexão com a terra e com o sagrado das plantas
Além de encantar porque são lindas
e cheirosas, algumas plantas possuem outros poderes. Viver no meio delas e praticar
o seu cuidado costuma proporcionar paz e relaxamento. Seus benefícios vão além
do prazer em apreciá-las. Há os que lhes atribuem poderes mágicos. Quem pode
provar que não?
Plantas fazem parte de rituais e
crenças, principalmente em datas carregadas de simbolismo, como é a virada do
ano. Acredita-se que algumas delas sejam
revigorantes e curativas, carregando uma aura de misticismo, alimentada por virtudes a elas atribuídas desde
nossos ancestrais. Seriam capazes de potencializar forças da natureza em
benefício dos que sabem lidar com elas. Supõe-se que atuam como um filtro,
diminuindo a negatividade em ambientes, melhorando a energia e espalhando a paz.
O uso de ervas, em forma de banho,
escalda-pés, chás e emplastros ou cataplasmas é prática entre diversos povos. Várias
plantas se prestam a esses usos. Não se trata apenas de crenças e tradições
populares. Há estudos e pesquisas concluídos ou em andamento, sobre as propriedades medicinais de um sem
número de plantas, sendo que algumas já fazem parte da composição de diversos
medicamentos e, ou nutrientes, ou complementos alimentares.
O ano de 2020 não foi dos
melhores, para se dizer o mínimo. Por
isso, agora nesse momento de virada, vamos usar de todos os recursos e
artifícios de que temos notícia, para atenuar essa maré de má sorte.
Há uma lista enorme de plantas que
podem ser usadas em forma de banhos de limpeza e reenergização. Para o preparo
dos banhos que menciono aqui usam-se poções generosas das plantas, (meia dúzia de
galhos ou hastes florais), que devem ser
colocadas em dois litros de água fervente. Tampa-se a vasilha e espera-se que a água fique em temperatura própria para o
banho. Essa deve ser jogada no corpo, depois do banho normal. Sugere-se uma
secagem rápida e superficial.
Selecionei sete plantas bastante comuns e
fáceis de serem encontradas em jardins, quintais, hortas e feiras, com seus
benefícios mais alardeados.
1.
Alecrim - acredita-se
que o Alecrim possa trazer força e coragem a uma pessoa desanimada. Conhecida
como a planta da felicidade e da prosperidade, o alecrim combate a depressão e
eleva os ânimos. Tanto o banho quanto o escalda pés feitos com os galhos e as
folhas da planta têm poderes revigorantes, além de possuir um cheiro cítrico muito
agradável.
2. Artemísia – além de proteção espiritual, a Artemísia desenvolve a intuição, e atua na conexão com o sagrado feminino. Suas folhas e pequenas flores brancas são utilizadas há milênios em forma de banho para tratar de problemas do aparelho urogenital e também para acalmar e relaxar dores musculares.
![]() |
Arruda: banho poderoso |
3. Arruda
- o banho com essa erva poderosa é um aliado
para afastar energias ruins e promove a limpeza espiritual e a proteção do
corpo. Embora muitos pensem tratar de uma planta típica de religiões e ritos de
matrizes africanas, a Arruda era usada desde a Grécia antiga e faz parte também
de rituais cristãos.
4. Guiné
– nativa do Brasil, essa plantinha de cheiro acentuado é considerada mensageira
de sorte. Um banho feito com suas folhas e flores pode aliviar dores pelo corpo
sensação de cansaço e desânimo, renovando as energias. Recomenda-se evitar
contato com as partes intimas, pois é uma planta com certo grau de toxidade.
![]() |
Guiné |
![]() |
Manjericão, cheiroso e curativo |
5. Manjericão
–
Largamente utilizado como tempero, o Manjericão possui propriedades incríveis, quando
usado em forma de banho de limpeza. Seu cheiro é muito agradável e acredita-se
que o seu uso serve para afastar a negatividade e o esgotamento físico,
minimizando a angustia e o desânimo.
6. Rosa
branca – Muito empregadas na indústria cosmética, as pétalas de rosa branca
quando utilizadas em banho promovem a limpeza física e espiritual. Além de atenuar
a sensação de cansaço, esse banho atrai paz e tranquilidade, exalando fluidos benéficos
e proporcionando sensação de relaxamento e bem estar.
7. Sabugueiro - essa planta linda e pouco conhecida de arbusto frágil e cachos brancos pode proporcionar um banho poderoso. Tem propriedades de reduzir a fraqueza diante de grandes desafios e atenua o medo de perder o controle da situação; atua contra o desânimo e na reconstrução da auto confiança e da autoestima.
![]() |
Sabugueiro |
Para finalizar desejo um bom 2021
a todos e replico a mensagem do meu sindicato: estamos aqui para semear
esperança, ano novo é semente em nossa caminhada.
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
TEMPOS DE NATAL SINGELO. TEMPO DE CAETANO
“E
vejo e peço
Dias
de Outras cores...” (Caetano Veloso em Noite de Crital)
![]() |
Árvore brasileira, inspiração cerrado |
Este ano pede um Natal com celebrações singelas. Vamos substituir nossas
reuniões maiores, festivas e animadas por encontro mais íntimo apenas entre os
residentes na mesma casa. Creio que, entre nós, os cristãos, nem mesmo uma
pandemia como a que estamos vivendo, justificaria deixar a data passar completamente
em branco.
Aqui, além da celebração religiosa, compõem esse ritual de fim de ano, as tradições, os costumes e as crenças de família. Eles retornam para nos lembrar quem somos, para que não esqueçamos onde estão fincadas nossas raízes, por mais que distanciemos delas.
Mesmo que a indústria e o
comércio, com suas artimanhas intensivas vivam a nos massacrar dizendo que o
Natal é um tempo de comprar e consumir cada vez mais, teimamos em
manter as tradições e os costumes e as nossas crenças que nos direcionam. Valorizamos
um paninho bordado a mão, um santinho de barro, um arranjo de flores colhidas do nosso jardim,
uma comida caseira, entre tantas outras delicadezas.Cerrado inspira presépio
O que pode ser melhor e mais
reconfortante, que os afetos nesses tempos de espanto, nesse turbilhão de
incertezas e indefinições como são os dias atuais?
![]() |
Dias no preparo dos figos de Natal |
Tudo pode ser mais delicado ainda,
se houver uma apresentação de Caetano Veloso, como a que acabamos de assistir
pelas redes sociais. Ele esteve sereno e com o olhar quase triste, mas com sua poesia e sua música maravilhosas e uma presença marcante nesse espetáculo intimista, sem o
excesso de sons e cores, habituais em apresentações de grandes artistas em fins de ano.
Um cenário minimalista, o palco só
seu. Caetano foi-se reafirmando grande
na simplicidade, exaltou e recebeu em participação cada um de seus filhos;
babou para os netos, relembrou e enalteceu amigos. Recordou com afeto suas
origens, sua brasilidade. Falou de presépio, de infância e de cheiro de pitanga.
Lembrou e cantou Assis Valente, denunciando, mais uma vez, nossa enorme desigualdade
social: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”.
Em celebrações de fim de ano,
costumamos pensar sobre essa entidade vaga, “tempo, tempo, tempo, tambor de
todos os ritmos”. Caetano o tempo todo, destilou poesia e nos fez refletir: “Existirmos,
a que será que se destina... ?” e não nos permitiu esquecer que “Gente quer ser feliz...
Gente é para brilhar, não para morrer de fome”.
Generoso e modesto, o artista sabe que é um dos maiores dos tempos modernos.
Todavia, foi incapaz de deixar escapulir uma faísca sequer de arrogância, de
altivez exagerada. Fez, merecidamente uma declaração de amor a “Sua branquinha,
seu irmão” a mulher que lhe assegura a sustentação necessária para se manter ativo e moderníssimo, com quase oitenta anos de idade.
Ele disse ao iniciar o relato de
suas memórias de Natal que via “em torno da manjedoura, o mundo”. Nessa
apresentação transmitida pela internet, vimos em torno de Caetano, o mundo. Gratidão.
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
O POVO BRASIEIRO – Darcy Ribeiro
Inspirador, necessário e definitivo.
Assim é O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil, esse livro
magistral. É um daqueles que deveria ser leitura obrigatória em todos os cursos
de graduação, nesse nosso país que sabe tão pouco de si mesmo.
Objeto de extensa pesquisa
documental, não foi por acaso que este livro demorou trinta anos, sendo escrito
e reescrito, antes de ser publicado, próximo à morte de seu autor, o
antropólogo, professor e político brasileiro, Darcy Ribeiro.
Ao mesmo tempo que coloca o dedo
nas feridas de nossas mazelas, descreve com maestria as dores do sofrido parto que
nos originou, registando nossas origens muitas vezes nada edificantes.
Objeto de extensa pesquisa documental, na obra encontramos um relato singular sobre nós, sobre quem somos e como nos formamos enquanto povo e nação. Indispensável porque, como disse o autor "nenhum povo pode viver sem uma teoria de si mesmo".
O
livro custou a Darcy Ribeiro uma vida inteira de pesquisas documentais e
etnográficas e constitui uma reflexão sobre os desdobramentos do confronto de culturas
radicalmente distintas – a lusitana e a indígena.
A obra ajuda-nos a compreender
muito de nosso complexo de vira-latas. Sendo, nossos ancestrais, fruto do
cruzamento de portugueses, com mulheres indígenas nativas, fomos, segundo Ribeiro, vítimas de duas rejeições drásticas. Os brasilíndios não puderam
identificar-se com os pais portugueses que os rejeitavam e “os viam como
impuros filhos da terra”. As populações nativas indígenas, por sua vez, os
desprezavam, porque segundo suas crenças e tradições, "... quem nasce é
filho do pai e não da mãe...” Dessa forma, não podiam identificar-se com uns, nem
com outros.
Ao nos apontar quem somos, como
nos formamos enquanto povo e nação,
o autor evidencia a violência direta, sexual
e estrutural do processo de miscigenação conduzido por meio da subjugação da
massa de indivíduos constrangidos, depreciados e desumanizados. E de
como os africanos feito escravos que aqui forçosamente aportaram, se integraram
à etnia brasileira, encontrando já constituída um início de civilização luso tupi, à qual
foram obrigados a se incorporar e na qual tiveram que aprender a viver.
Evidenciando as qualidades singulares de nosso povo híbrido, o livro desnuda a desigualdade e a brutalidade
que se impõem no Brasil desde sua origem, e ajuda-nos a conviver com as
cicatrizes de uma sociedade marcada pelo escravagismo e pelo latifúndio
extrativista. Leva-nos a reconhecer as qualidades singulares desse povo mestiço,
formado e enriquecido pela confluência de matrizes diversas, que se converteram
em uma identidade brasileira, ajudando-nos a valorizar o potencial de nossa
brasilianidade.
Essa obra prima é, antes de tudo, uma
declaração de amor ao Brasil, uma reafirmação da admiração do autor por nossa
gente e um manifesto de esperança em nosso futuro. Faz parte do sonho do
antropólogo em ajudar a construir aqui, uma sociedade solidária e soberana.
Para finalizar deixo claro que
essas poucas linhas que escrevo não são uma resenha, ou algo que possa dar uma
ideia do conteúdo deste livro. Nada do que foi escrito sobre O Povo Brasileiro,
de Darcy Ribeiro, será capaz de expressar a grandiosidade dessa obra. O que
faço aqui é apenas um convite aos que ainda não o leram para que não deixem de
fazê-lo o quanto antes.