terça-feira, 17 de setembro de 2019

CONVERSAS DE JARDINEIROS – Reformas em Casa


Jardins bonitos requerem manutenção constante, por mais que sejam habitados por espécies perenes, que exigem menos cuidados. Podas de limpeza,  retiradas de hastes secas, galhos ou folhas que precisam ser removidos, boas regas e alguma adubação, entre outras, são rotinas de jardineiros cuidadosos.
Todavia, quando se torna necessária alguma intervenção mais profunda, os cuidados precisam ser redobrados. É o que normalmente acontece quando a casa encontra-se em reforma. O jardim, frequentemente, acaba sofrendo e, muitas vezes, precisa ser incluído nos reparos.
Obras que envolvem a recuperação de  muros que servem de encosta ao jardim podem exigir  cuidados maiores, mesmo com as plantas mais robustas. Geralmente quando se pode escolher, dá-se preferência para a execução de obras no período da seca. Por aqui, esse período começa geralmente a partir de junho, quando a probabilidade de chuvas é menor, indo até setembro. Também nessa época, as podas são mais indicadas. Assim, casar os dois procedimentos pode ser uma boa escolha, já que, mesmo com todos os cuidados, as plantas costumam sofrer com poeira, respingos de massa e tinta, além de outros danos.
Caso o jardim seja algo importante, é melhor deixar bem claro para os profissionais que estão envolvidos na obra, que durante a reforma,  os cuidados com as plantas são imprescindíveis No meu caso, além de recomendar, prefiro me envolver pessoalmente, não abrindo mão, por exemplo, de orientar a retirada de plantas que precisam ser removidas. Costumo ainda escolher pessoalmente o lugar onde as plantas retiradas do jardim serão colocadas provisoriamente e me encarregar dos cuidados com as regas e podas, nesse processo de reformas.  
Raramente, por mais que planejemos, as obras em casa ocorrem sem nenhum imprevisto. Isso vale também para as plantas e o jardim. Assim, para evitar decepções e aborrecimentos maiores, melhor dar início à reforma, contando que alguma perda pode ocorrer. É muito bem vinda a contratação de profissionais que compreendam o quanto a preservação e os cuidados com o jardim são importantes na empreitada. Contar com um bom servente que tenha alguma prática de jardinagem, ou gosto com plantas, nessa situação, é um luxo.  
Dependendo, obviamente, do tamanho da intervenção, nem todas as plantas precisam ser removidas do jardim. Alguns cuidados permitem que sejam mantidas em sua posição original, sem grandes interferências em seu crescimento e floração.
Selecionei alguns exemplos que podem ajudar quem vai passar por uma reforma em casa e não quer ver seu jardim  danificado e necessitando “começar de novo”, depois que a casa estiver pronta.

Buganvília adulta em floração
-  Buganvília adulta em plena floração que encontrava-se apoiada no muro, teve seu tronco e galhos afastados do apoio com o auxílio de cordas e um suporte de ferro, enquanto a edificação era restaurada e pintada. Durante o período em que permaneceu fora do apoio do muro, recebeu regas diárias. Ao final do procedimento, ganhou uma poda de limpeza, uma boa adubação e foi reconduzida ao muro. Praticamente não sofreu danos.

Nolina amarrada durante a reforma
- Nolinas (pata de elefante)  e sagus adultos são exemplar preciosos em muitos jardins. Embora sejam  espécies caras e de crescimento lento, são bastante robustos e resistem bem a pequenas agressões. Um bom amarrado em suas folhagens costuma funcionar bem, protegendo-as de  respingos de tinta e massa de reboco, poeira de cimento e alcance de pedras e ferramentas. Borrifar água diariamente nas folhas e nos troncos é um procedimento que auxilia para que essas espécies não sofram danos maiores durante uma reforma.

Essa touceira de Chamedória foi
protegida com amarração
- Palmeiras como as de Petrópolis, as Chamedórias, as Fenix e as Raphis,  mesmo que não alcancem altura elevada quando adultas, costumam ser  espécies que tornam-se difíceis de serem removidas temporariamente do seu local, sem trabalheira. Recursos como amarrar as folhagens e manter a umidade do  solo também costumam funcionar nesses casos.

- Dracenas, no geral apreciam boas podas, especialmente nessa época do ano. Suas hastes costumam ser flexíveis e as folhagens bem resistentes. Assim sendo, melhor mantê-las em seus locais de origem, bastando afastar seus galhos do contato direto com materiais da obra. Podas de limpeza e manutenção devem ficar para depois da conclusão da reforma, priorizando a retirada de hastes que sofreram algum dano como quebras de folhagem, feridas e respingos de tinta ou poeira de cimento.  

Manacá floresce durante a obra, amarrado
a pedras que o mantem fora do muro.

- Arbustos como os manacás, as clúseas e os resedás somente devem ser removidos de seu local, caso seja estritamente necessário. Cobri-las com lona durante o trabalho, ou arredar seus galhos do contato com a obra, costuma ser ação suficiente para protegê-las.  

Ao contrário das espécies citadas, algumas plantas podem ser facilmente removidas do lugar em que se encontram, em perfeito estado. É o caso, por exemplo, de  bromélias e orquídeas de chão. Tais plantas costumam ter o sistema de enraizamento bem superficial e resistem  a serem arrancadas, algumas até sem os respectivos blocos de terra;  precisam apenas serem protegidas de excesso de poeiras, respingos de tinta e outros acidentes comuns em obras. Podem ficar bem, se transferidas para locais de espera principalmente sombreados, com menor risco de perdas.


Bromélias aguardam em caixas até serem
levadas de volta ao jardim

Na maior parte das vezes, as plantas preferem, caso seja possível, serem mantidas no local em que estão habituadas e adaptadas. Obviamente que tal solução somente se aplica para o caso de não haver projeto de interferência significativa no jardim. Amarrar as folhagens, cobri-las e às  floradas com uma lona, durante o dia,  descobrindo-as à noite, jogar  água nas folhas e nas raízes ao fim do dia, são práticas que costumam funcionar bem.
Dessa forma, ao fim da obra, a recomposição do jardim pode ser realizada com menos trabalho e ser menos onerosa. Como é sabido, exemplares adultos de espécies ornamentais costumam ser caros, além de precisarem de um tempo para adaptação.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019


"PARA NÃO DIZER  QUE NÃO FALEI DAS FLORES". 

Planejei essa postagem sobre as floradas de agosto como uma alternativa para não falar de política. 
Muitos percebem agosto apenas como um tempo seco, ventoso, frio e empoeirado. No entanto, aqui na nossa região, as floradas nessa época  são exuberantes.
Começando pelo cipó de São João cujas flores este ano não abriram em junho, como de costume;  apareceram timidamente em julho, e agora em agosto atingiram sua plenitude.
Muro de igreja coberto pelo cipó de São João
Foto: Jonas Vieira
No início do mês, encontrava-me na capital mineira e descobri, com muita alegria, dois muros cobertos com suas flores cor de fogo. Essa espécie ainda é pouco cultivada em jardins, sendo mais comum vê-la nos pastos e margens de capoeiras; foi surpreendente encontrá-la florida em plena região urbana de Belo Horizonte, nos muros da igreja N. Sra. Auxiliadora e em uma residência ali por perto.
Por agora, as quaresmeiras e os manacás da serra se despedem com as derradeiras flores. Da mesma forma as buganvílias, que embora floresçam praticamente o ano inteiro,  no inverno ficam mais exuberantes.
Buganvília alaranjada
Pata de vaca: abelhas e beija-flores
Elas têm dado lugar a outras não menos atraentes, como as patas de vaca, por exemplo, que, nas versões brancas e cor de rosa, enchem os nossos olhos de beleza e o ar no seu entorno de abelhas e beija-flores.
No final do inverno, geralmente os ipês roxos e cor de rosas prenunciam os da cor amarela que costumam atingir a plenitude da florada no mês de setembro. No entanto, antes que eles predominem com seu esplendor e beleza, as paisagens por aqui ficam marcadas pelas paineiras e pela eritrina mulungu com seu vermelho alaranjado de tirar o fôlego.
Além das espécies ornamentais, no mês de agosto, é de apreciar a beleza das floradas das mangueiras e das jabuticabeiras em quintais, jardins e beiras de estrada. As abelhas agradecem.
Eritrina mulungu: flores cor de fogo
Outra árvore de grande beleza cujos botões, nessa época, abrem-se em flores delicadas formando  encantadores pompons, é a candeia. Tão mineira, tão genuinamente brasileira, é comum  nas faixas de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Passando pela região de Ouro Preto, ela pode ser vista com muita frequência, dando à paisagem o tom nostálgico da história, lembrando-nos que seu precioso óleo iluminava os candeeiros, antes do advento da luz elétrica.
É só sair por ai com os olhos abertos que vamos encontrando essas e outras belezas de tirar o fôlego.

Mangueira florida

Embora a vegetação costume variar bastante de uma região para outra, sabemos que algumas espécies, como os ipês e a as eritrinas, por exemplo, ocorrem no país inteiro. Fico pensando em quantas árvores dessas devem ter ardido em fogo nesses últimos dias. É de espantar que, para alguns, não seja importante preservar e cuidar dessas belezas que, além de nos encher os olhos, cuidam, promovem e abrigam vida e diversidade, necessárias à sobrevivência de nosso lindo planeta azul.

Confesso que tentei. Todavia, com a Amazônia, nossa maior reserva de floresta tropical, ardendo em fogo, fica difícil. Não foi com pouco esforço que me contive de comentar, a todo o instante, sobre os danos que as queimadas estão causando naquela região, em todo o país e em outras partes do mundo. Não posso deixar de expressar minha indignação, revolta e vergonha pelo que está acontecendo! Sabemos que nessa época do ano, queimadas costumam ocorrer. No entanto, nunca tivemos um governo que tivesse contribuído tanto para que elas aumentassem de maneira espantosa, como agora. Sem pudor, ele vem implementando ações de desmonte do IBAMA, do ICMBIO e de outros órgãos responsáveis pelo cuidado e preservação do meio ambiente; expressa claramente seu discurso de raiva contra populações nativas, alardeando o desrespeito à natureza e a vontade de minimizar ações que visem protegê-las. Considera que preservação e cuidados necessários à manutenção da biodiversidade são mecanismos de atraso ao desenvolvimento. É bom que se repita que deixou isso tudo bem expresso, desde que era candidato. Seus atos, agora, confirmam o esvaziamento das estratégias de fiscalização e suporte ao controle do crescimento de áreas desmatadas pela ganância sem limites de pessoas e grupos econômicos inescrupulosos.  




quinta-feira, 25 de julho de 2019

DIA DE SÃO CRISTOVÃO


“São Cristóvão, protegei-me nas minhas idas e vindas e ensinai-me a viver com alegria!”.

Conta a lenda que São Cristóvão era um homem muito grande, quase um gigante, que vivia em busca da verdade e de conhecer um mestre genuíno. Chegou a ser enganado por forças do mal que levaram-no a acreditar que, por seu tamanho muito acima da média, deveria cultivar a mania de grandeza, poderia ser orgulhoso e considerar-se detentor de poder e glória.
Nessa procura, no entanto, certa vez foi aconselhado por um eremita a, justamente por ser tão alto, postar-se diante de um rio de difícil travessia para ajudar os que tentassem nele atravessar.
Certa feita foi solicitado a ajudar na travessia de um menino. Ao transportar, para a outra margem do rio, a criança nos seus ombros pareceu-lhe extremamente pesada. Ao finalizar o transporte, cansado e arquejante sobre o seu cajado, soube que, quem carregava era ninguém menos que o Menino Jesus.

Assim, de maneira milagrosa, São Cristóvão compreendeu que homens deveriam ser apreciados pela bondade para com o próximo e não pela sua grandeza. Ao converter-se, foi perseguido e condenado a ser decapitado, tornando-se mártir.

Apesar de ser um dos santos mais populares do mundo, venerado por católicos e umbandistas, pouco se sabe ao certo, a respeito da vida do santo. Ele teria nascido em Canãa, sido batizado com o nome de Réprobo, antes de assumir o nome de Cristóvão, o carregador de Cristo; viveu no século III, d.C.,  e  teria morrido  no reinado do imperador romano Décio.
Por ter tido a sublime ventura de transportar Jesus nos ombros, geralmente é assim representado e foi consagrado como padroeiro dos motoristas, condutores  e  viajantes.



quinta-feira, 18 de julho de 2019

PERSONAGENS INESQUECÍVEIS


No cinema ou na literatura  deparamos com personagens inesquecíveis para cada um de nós. Aqui apresento os meus. Alguns deles, talvez componham também a sua lista. Ou não,  podem ser outros, assim como os motivos para escolhê-los também serão bastante pessoais. Assim, cada um de nós diz sobre si, até na escolha dos personagens que admira.
Tanto quanto figuras históricas, artistas de renome ou cientistas que contribuem para o avanço da humanidade, os personagens de ficção também dizem muito sobre a vida, sobre o seu tempo e o seu mundo. Ao seu modo, contribuem para a formação de crenças, costumes e condutas, para muito além de leis, normas e regras da vida institucionalizada.
Mesmo que habitem apenas o espaço da fantasia, esses seres, bem como os acontecimentos do mundo em que vivem, lançam questões sobre a realidade, e jogam faíscas de luz sobre aspectos do comportamento humano, instigando a reflexão e abrindo brechas para a possibilidade de questionamento do que está estabelecido. Embora não existam no mundo real, podem adquirir uma força extraordinária. Não é incomum que seus criadores sejam, muitas vezes, perseguidos, silenciados e até banidos da sociedade, porque denunciam mazelas e injustiças e  contribuem para a manutenção da utopia e da esperança.


1 BENIGNO
Pelas mãos de Pedro Almodóvar, em  Fale com Ela, descobre-se um personagem antológico. Benigno é desses sujeitos que o tempo passa e a gente não esquece. Uma atuação memorável do ator espanhol, Javier Cámara, para dar vida a essa criatura enigmática e complexa que  é o personagem em questão. Enfermeiro e cuidador da própria mãe, o rapaz se enamora por uma bailarina, Alícia,  que ensaia suas danças em uma academia que fica diante da janela da casa dele.
Quando morre a mãe de Benigno e, devido a um acidente, a moça entra em estado de coma, ele passará a ser seu enfermeiro e cuidador. Nessa condição, Benigno entra em contato com um jornalista que acompanha sua namorada, uma toureira, também em coma. O desenrolar dessa história, aparentemente insonsa, pela mente engenhosa e pela direção hábil e experiente do grande Pedro Almodóvar, é de uma criatividade inigualável. A delicadeza da dança, que pontua o filme em diversos momentos de extrema beleza, harmoniza perfeitamente com a fragilidade e a ternura dos personagens envolvidos. Durante o filme inteiro, Benigno rouba todas as cenas, sendo o senhor dos sonhos, fantasias e surpresas do expectador desse grande filme
  
2 CABÍRIA
Quando se vê pela primeira vez o cartaz do filme Noites de Cabíria, do diretor italiano Frederico Fellini, raramente se imagina a preciosidade que há naquela história. Obviamente não por ser antigo, o cartaz do filme é feio e desengonçado. A embalagem definitivamente não condiz com o produto que apresenta.
Cabíria é uma pequena e frágil mulher que tenta sobreviver fazendo programas pelas ruas da cidade. Uma prostituta romântica, esperançosa e crédula, que teima em idealizar o amor verdadeiro, mesmo passando por uma decepção atrás da outra.
E nesse seu sofrido périplo, ela nos encoraja inspira e instiga a continuar acreditando, mesmo que a vida esteja a nos passar uma rasteira atrás da outra.
Cartaz do filme Noites de
Cabíria


Nesses tempos de ódio e de fascismo, personagens como Cabíria são necessários e vitais, para que sigamos com esperança, acreditando em utopias.

3  CALVERO

Dentre o rol de personagens memoráveis de Chaplin, não há como não se derreter por Calvero, de Luzes da Ribalta.
Um artista velho e em decadência, que já teve fama e glória em palcos importantes, agora vive desanimado e anda exagerando na bebida. Mesmo nesse estado, acaba salvando a vida de uma jovem, em profunda depressão, que tentara o suicídio. Ao cuidar dela e durante a recuperação, acaba se apaixonando e adquirindo, ele mesmo, um pouco de ânimo e disposição para retomar sua carreira. No entanto, mesmo mais autoconfiante, sua tentativa de voltar aos palcos não é bem sucedida e ele torna-se um artista de rua.
Em uma passagem memorável, ele acaba sendo reconhecido e referido como “o grande Calvero” ao que o personagem retruca: “Ninguém vive o suficiente para ser mais do que um aprendiz”.
Prestes a completar um século, esse filme e seu personagem principal continuam a povoar a memória dos amantes do cinema e da arte de maneira geral. Uma obra prima de um dos maiores artistas do século XX. O desfecho da história, lindo e comovente, não nos deixa esquecer que estamos diante de uma peça de Charles Chaplin, um dos precursores e grande mestre do cinema.

  
4 CAPITU

Mesmo já tendo completado cem anos o romance D. Casmurro, de Machado de Assis, conta uma história muito atual.
Uma mulher linda, inteligente, desenvolta e, desde criança, sedutora e  carismática vai viver um romance e um casamento com um parceiro inseguro, ciumento e mimado.
Não é apenas Bentinho, o marido possessivo, que lança sobre ela olhares de desconfiança a todos os momentos. Durante o desenrolar da história, o narrador inferniza seu leitor, a todo instante, invocando-o pessoalmente a julgar  as condutas da mulher que ele chamou de “cigana oblíqua e dissimulada”. Parece-me pesada a carga de preconceito que a expressão carrega! 
A história concentra-se nas reflexões do marido a respeito do seu romance com Capitu, pontuando o relato com um tom forte de ironia, pessimismo e descrença. Deixa vazar sem pudores toda a desconfiança de uma mente doentia, como se pretendesse fazer nascer a fórceps, a certeza de uma traição que nem ele próprio sabe se houve. 
Capitu resiste, e permanece na mente dos leitores dessa obra prima, como uma das personagens mais importantes da literatura brasileira de todos os tempos.


5 DIADORIM

Por coincidência, aqui na lista em ordem alfabética, emparelham-se os dois personagens mais importantes da literatura brasileira: Capitu e Diadorim.
Diadorim, ou  Reinaldo, como muitas vezes é referido em Grande Sertão: veredas, a obra prima de Guimarães Rosa, é um personagem enigmático e ambíguo.
Doce como um pequeno passarinho cantador, ou corajoso e obstinado tal qual uma onça faminta, ele caminha em meio às asperezas de um sertão onde as leis não chegam, junto com bandos de jagunços violentos e sanguinários. Valente e meigo, Diadorim deixa transparecer em seus olhos uma inevitável solidão que acaba, em variadas medidas, sendo a marca da existência de todos nós.
Diante da saga de Diadorim, podemos nos perguntar: - Que escolhas a vida nos proporciona?


6  D. QUIXOTE

Há mais de quatrocentos anos ele figura como o personagem mais importante da literatura universal, de todos os tempos.
Magro, romântico, sonhador, obstinado e crédulo. Tanto que é capaz de acreditar nas histórias que lê, e de se transformar num personagem, misturando ficção e realidade a ponto de ter alucinações e ser considerado louco.
O romance D. Quixote, de Miguel de Carvantes,  além de ser uma obra prima universal de qualidade inquestionável, inspira há anos, outros artistas de diversas linguagens, sendo sinônimo de talento e criatividade.
Tenho motivos de sobra para me encantar por esse fidalgo, o maior deles, com certeza, a proximidade de características do personagem com a personalidade de meu pai.

7  FLORENTINO ARIZA

Florentino Ariza é um amante charmoso, romântico e encantador criado pelo genial colombiano, Gabriel Garcia Marques, prêmio Nobel de Literatura, em  O Amor nos Tempos do Cólera.
Esse homem obstinado, capaz de fazer resistir uma paixão tão duradoura e uma promessa de amor eterno, consegue encher de júbilo os corações dos românticos. Afinal quem não se apaixona por esse sedutor, capaz de esperar o amor de uma mulher por 53 anos, sete meses e 11 dias?
Como não se encantar com a firmeza e a obstinação com que ele enfrenta até ameaças de morte, em nome de concretizar seu sonho de ter  Fermina Daza?


8 MADAME FRANCINETE

É impressionante como, mesmo diante da brevidade da narrativa de um conto, um autor genial consegue construir um personagem inesquecível. O argentino Júlio Cortázar fez isso com uma maestria digna de registro.
No conto Os Bons Serviços, que compõe o livro  As Armas Secretas, tal proeza se realiza com Madame Francinete, uma faxineira parisiense,  prestes a se aposentar, que acaba sendo convidada a executar serviços inusitados.
Com a proximidade da velhice e diante das restrições econômicas em que vive, a personagem faz reflexões sobre a solidariedade, a pobreza, as injustiças sociais e as idiossincrasias humanas. Tudo isso com um humor ácido, registrando a hipocrisia predominante entre as classes sociais mais abastadas e a invisibilidade dos pobres, sem no entanto, nenhum engajamento político.

9  TIRÉSIA

Uma travesti brasileira se prostitui nas ruas de Paris. É uma mulher meiga, delicada e feminina, ficando longe das figuras caricatas que geralmente caracterizam esse grupo.
A atração que exerce sobre um homem é doentia, levando-o a aprisioná-la e cultuá-la como o mais precioso objeto do seu desejo. Isso não o impede no entanto, de cometer atrocidades em nome desse suposto sentimento.
Nesse filme de produção franco canadense, mito e realidade se intercedem, resultando na criação de uma das personagens mais interessantes do cinema, que pude conhecer.

10  UM ARTISTA DA FOME

Dele não ficamos sequer sabendo o nome. No entanto, mesmo sendo personagem de narrativa curta, Um Artista sem Nome, conto de Kafka, em livro com o mesmo título, fica facilmente registrado na memória dos que o leem.
O protagonista de mais esse conto extraordinário é um obstinado artista cuja façanha é apresentar-se publicamente por longos e sucessivos dias, em uma jaula, sem ingerir nenhum tipo de alimento, como o nome sugere. Vigiado constantemente pelo público, o personagem cumpre com rigor absoluto os rituais de sua arte. Os que o assistem não estão propriamente interessados nela, já um tanto fora de moda, mas sim em assegurar que ele não fraquejará em seu intento.
Uma preciosa reflexão  sobre a vida e sobre como tudo muda, permanecendo a arte, no entanto, como uma marca indelével da condição humana.



sábado, 22 de junho de 2019

CONVERSAS DE JARDINEIROS - FORRAÇÕES

Grama amendoim
Jardins bonitos raramente mostram algum trecho de terra nua. A grama costuma ser a forração mais utilizada para fazer cobertura de áreas maiores. No entanto, muitas outras plantas  servem para tal fim. É o caso da grama amendoim, por exemplo, uma espécie bem fácil e que embora tenha esse nome, não é uma gramínea.
Geralmente as forrações são utilizadas para dar o acabamento em um conjunto de outras plantas. Ao escolher as espécies, alguns aspectos merecem ser considerados para assegurar não somente a beleza da composição, mas também a sua manutenção e durabilidade. 
Marantas são boas escolhas como forração
para canteiros sombreados
O primeiro deles refere-se às exigências das variedades que vão ser utilizadas no canteiro. Quantidade de sol, frequência de regas e composição do solo devem estar em harmonia, para que a sobrevivência das plantas não seja comprometida. Assim, por exemplo, se o canteiro é pouco ensolarado e a maioria das espécies que o compõem são de sombra, a forração também precisa ter exigências similares.
Assim como as cores e texturas das plantas que vão ficar juntas devem estar em sintonia, se a altura da forração não  estiver proporcional ao restante do canteiro, a harmonia e a beleza do conjunto ficam comprometidas. 
Geralmente as espécies mais utilizadas como forrações são menos atraentes em flores. No entanto, plantas com  boas floradas também finalizam bem vários tipos de canteiros, especialmente aqueles cujas plantas principais são espécies menos floridas, como a bromélia imperial, sagus e  nolinas, por exemplo.
E por falar em bromélias, essas eternas queridinhas dos jardins tropicais,  também e especialmente as de menor porte, podem ser usadas como forração e permitem um acabamento sofisticado acompanhando plantas  com floração exuberante e farta. Vejam essa composição formada por um Manacá da Serra e bromélias. As duas espécies se completam, harmonizando entre si, especialmente em relação à cor. 


Para quem aprecia espécies nativas do Brasil, indico duas forrações com floradas bonitas e que oferecem a facilidade de adaptação em praticamente todo o país. Refiro-me à mimosa Érica e à exuberante Semânia, que enfeitam qualquer canteiro por mais modestas que sejam suas plantas principais.  
Semânias e
  Como se vê, são grandes as possibilidades de escolhas, quando se fala em plantas para forração e acabamentos de canteiros. Geralmente, com  os jardins, queremos espaços bonitos, duradouros e fáceis de cuidar. No entanto, eles oferecem outras possibilidades  como, por exemplo, atrair beija-flores e borboletas. Se for esse o caso, optar por forrações de florada farta, como essas duas últimas, costuma ser, quase sempre, escolhas muito adequadas.
Éricas