Dirigia
o automóvel na via esburacada, com curvas e morros. Pedras mal encaixadas, musgos
de aspecto úmido e escorregadio. De um
lado, a elevada montanha, do outro, o precipício escuro e sombrio.
Em
contraste à rudeza do cenário, ela se vestia a rigor como para um baile antigo.
Maquiada e de salto alto, a roupa escura e apertada, com dourados detalhes:
bela e desconfortável.
Depois,
ela montava um cavalo musculoso, de pelos escovados e crina aparada, e seguiam
por uma trilha. Montanhas e precipícios mais próximos. O percurso exigia
esforço de ambos. Botas desconfortáveis
torturavam os femininos pés, enquanto ela se indagava como iria a um baile de
gala assim vestida. A hora se aproximava impiedosa, o tempo ia se escapando à
velocidade da luz.
Aves
de rapina cortavam os ares. Com medo, ela se persigna e encara afinal o
acontecimento. Músicos exaustos, copos vazios e cinzeiros cheios. Flores
murchas pendiam dos vasos. Na pista lateral, jovens dançavam um funk obsceno.
Nos portões de acesso surgem bandos de crianças que vão ocupando o espaço; aulas e brincadeiras começam e pessoas são expulsas por vigias truculentos. Não cabem reclamações ou protestos: tudo estava previsto no estatuto.
Estrada e trilha, automóvel, animal, nada mais havia. Agora avisam que ali não toleram anarquistas