Virou moda falar de jardins funcionais. Revistas de casa, decoração e paisagismo, assim como as mostras anuais de profissionais e produtores das áreas têm intensificado a utilização desse termo. Creio, no entanto, que, desde os mais remotos tempos, jardins têm sido espaços que cumprem múltiplas e variadas funções, indo muito além de suas propriedades puramente decorativas. Há os casos daqueles que instalam jardins em residências e outros espaços públicos ou privados com o objetivo apenas de valorização do imóvel ou do serviço ali prestado. Da mesma forma, existem os que desejam um jardim como espaço de meditação e busca de harmonia interior, bem como outros que apreciam beija flores e outros pássaros e requerem dos profissionais do paisagismo a inclusão de espécies florais que sejam mais atraentes para esses bichinhos.
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Limoeiro também usado como suporte de orquídeas |
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Composição interessante de jabuticabeira e bromélias enfeita a área da piscina Foto: Dayze Magalhães |
Há
registros que indicam que por volta dos anos 300 a. C., o filósofo grego
Epicuro exaltava o bem viver e a felicidade que podem surgir da convivência com
os jardins. Ele referia-se ao Jardim das Delícias e dos prazeres e criou uma
escola de pensamento, o Epicurismo, que divulgava suas ideias, compartilhadas
por muitos discípulos.
Parece claro que os jardins, enquanto espaços planejados, podem e devem ser vistos não apenas como espaços com funções estéticas e decorativas. A depender do desejo e das possibilidades dos seus usuários, o paisagismo pode atender a diversas funções, sendo as mais mencionadas:
- para a valorização e embelezamento de imóveis;
- como espaço de
meditação e busca de paz interior;
- com função estética, ou seja priorizando-se a promoção da beleza e harmonia
do local;
- com o objetivo de preservação
e cuidados com a fauna e a flora, atrair pássaros, borboletas e outros pequenos
animais;
- e, como mencionado,
os ditos Jardins funcionais, quando às
espécies ornamentais, associam-se plantas que possuem outras características.
Esse
último movimento, o de incluir espécies utilitárias nos jardins, tem sido
impulsionado pelo desejo, cada vez mais frequente, de melhorar a oportunidade
de consumir alimentos mais saudáveis, livres de agrotóxicos e excesso de
fertilizantes.
Frutíferas
de porte menor e de fácil produção em
climas tropicais e temperados tem sido vistas com mais frequências em belos jardins. Apenas como exemplos de arbustos, citam-se romãs, acerolas, carambolas e jabuticabas, entre outras
tantas que, a depender do arranjo e da distribuição nos canteiros, cumprem o papel de
utilitárias e decorativas com o mesmo vigor. Maracujá, uva e kiwi, entre outras,
trepadeiras ficam muito bonitas cobrindo pergolados ou mesmo como coberturas
para cercas e muros.
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Carambola: um luxo no jardim |
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Acerola enfeita, alimenta e pode proteger espécies de sombra |
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Pérgola coberta por parreira de uva confere proteção a kokedamas de plantas pequenas e orquídeas Foto: Solange do Carmo |
Entre as espécies menores, são bonitos os tomateiros, várias tipos de pimentas e pimentões da mesma forma que as berinjelas (por seus lindos frutos) e as beterrabas (por sua folhagem exuberante). Essas e outras plantas de hortas podem cumprir o papel ornamental adicionando cores e texturas inesperadas em jardins e canteiros. Também a cúrcuma (ou açafrão da terra) assim como o gengibre, além de muito saudáveis para serem incluídos nas dietas alimentares, produzem flores interessantes e compõem bem com alpíneas, helicônias e especialmente com a cúrcuma ornamental, uma variedade que tem estado na moda entre paisagistas e decoradores. Morangos, por sua vez, além de poderem compor canteiros, costumam ser usados lindamente como forração em vasos maiores.
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Cidreira ou capim limão em harmonia com bromélias |
Das
espécies consideradas aromáticas, ou folhas de chá, também surgem combinações
interessantes em jardins multifuncionais. A camomila e a artemísia, por exemplo,
com pequenas flores brancas e amarelas enfeitam e alegram canteiros; da mesma forma, a alfavaca e o manjericão,
ambos com folhagens exuberantes quando bem cuidadas, além de enfeitar perfumam
espaços onde são inseridos e podem atrair insetos importantes como abelhas e
joaninhas.
Cultivar, mesmo que pequena parte de sua própria comida, não se resume a ter uma vida mais saudável, mas também em
contribuir para a preservação do meio ambiente. Quando essa prática puder ser
associada com o gosto que a maioria das pessoas possuem por jardins, certamente
tornará as atividades de cuidado e manutenção necessárias muito mais
prazerosas. Enfim, jardim, pomar e horta
não são áreas excludentes, ao contrário, casam-se muito bem, observados os
princípios que conferem harmonia e beleza aos espaços, transformando-os em
verdadeiros “jardins de delícias e prazeres”, como se referia o antigo filósofo.
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Lindo vaso de pimenta do reino |