Devido à escassez cada vez
maior de recursos, a gestão eficaz é um desafio para a sociedade moderna,
constituindo-se em verdadeira prioridade para muitas nações e, consequentemente,
para suas organizações.
Por outro lado, a necessidade de
dar acesso a mais pessoas à cidadania e a padrões de vida dignos, e os avanços
do conhecimento e da complexidade das interações humanas são cada vez maiores,
exigindo qualificação em todos os campos de atuação.
A formação oferecida ao
administrador no Brasil, quando levada a sério, (obviamente que deveria sê-lo
em todas as instituições que se propõem a tal empreitada), capacita o
profissional a assumir papéis
diferenciados como empreendedor, executivo, assessor, consultor e pesquisador
no âmbito das organizações de qualquer natureza e porte. Favorece o domínio
dos códigos da especialidade, de modo a possibilitar a interação com diversos
interlocutores no ambiente dos negócios, permitindo a compreensão e a
possibilidade de atuação em sistemas produtivos nos diferentes ramos e
atividades da ação humana. Beneficia a compreensão histórica e a interpretação
de tendências, a partir da análise da conjuntura social, econômica e política
ao longo dos tempos e especialmente da atualidade.
Para dar
conta de responder a desafios de tal complexidade, a formação do administrador envolve
diversos campos do conhecimento, como o direito, a psicologia, a sociologia e a
filosofia, dentro do aspecto humanístico; abrange a teoria da administração, o planejamento
e a ação estratégica, a gestão de recursos humanos, a administração financeira,
mercadológica e da produção, inseridos no módulo instrumental. Perpassa ainda as
áreas de economia e negócios, envolvendo a micro e a macroeconomia e contempla
disciplinas quantitativas como a matemática e a estatística. Os
profissionais de Administração
devem adquirir em seus cursos de formação, o
domínio de aspectos teóricos e conceituais, que envolvem a comunicação e as
relações humanas, visando minimizar conflitos e favorecer a obtenção de um
clima organizacional harmonioso. A
proposta dos cursos de Administração precisa, salvo melhor entendimento, orientar-se
a conteúdos e projetos que favoreçam que indivíduos que se propõem a exercer a
profissão sejam, antes de tudo, pessoas melhores. E que se tornem capazes de ensejar
ações que contribuam para a efetividade de arranjos organizacionais com ética e
justiça social. Para isso, necessita-se, no mínimo, que os administradores
adquiram a compreensão de conceitos que tentam explicar o complexo mundo
organizacional, como a teoria de sistemas, as teorias da comunicação, de
liderança e motivação, entre outras. Tudo isso, sem perder de vista os métodos
e técnicas testados e consolidados como recursos capazes de favorecer o desempenho
das organizações. Intuição
e arte também se inserem nesse extenso pacote de habilidades e atitudes a serem
incorporados pelos administradores. Da mesma forma, despertar a curiosidade
intelectual permanente pode contribuir para que se melhore a compreensão da singularidade dos indivíduos e de suas delicadas interações em torno de
objetivos.
Por fim, porém não menos
importante, embora correndo o risco de me alongar além da conta, não posso deixar de
abordar uma questão relevante, lançando um questionamento: por que, quem não é
médico não pode prescrever medicamentos, quem não é advogado não pode defender
nem acusar réus, quem não é engenheiro não pode assinar plantas e projetos de
construção?
Relativamente à profissão do Administrador,
é bastante comum que se encontrem profissionais de outros campos de formação e até
mesmo sem capacitação alguma, exercendo a função. Por que isso ocorre? A resposta
não envolve outra razão que não seja: as profissões anteriormente mencionadas
têm conselhos fortes e organizados que fiscalizam o exercício das respectivas atividades,
denunciando e até punindo profissionais não habilitados ao seu exercício.
Não são poucos os riscos e
desastres decorrentes de uma gestão mal feita e equivocada, conduzida
indevidamente por profissionais sem a devida formação, em lugar de
administradores qualificados. Estão aí a comprovar, notícias que pipocam a toda
hora. São hospitais que deixam clientes sem o atendimento adequado, sistemas de
transportes que funcionam precariamente, escolas que não cumprem seu papel,
entre outros diversos exemplos de administração ineficiente. As consequências
não são menores nem maiores do que as resultantes da queda de um prédio ou de uma
ponte que ruem em decorrência de cálculos mal feitos, ou de prescrições
equivocadas por médicos despreparados. Em todas essas situações, assim como na
gestão não profissionalizada, vidas estão envolvidas e os riscos decorrentes
dessas inadequações são comprovadamente graves.
Alegam alguns que registros
profissionais e direitos exclusivos de exercício de profissões constituem
reserva de mercado e que tal normativo não constitui boa prática, devendo
prevalecer a capacidade, a competência e o conhecimento do ocupante dos cargos,
mesmo que tais habilidades não sejam resultantes de estudo formal. Pode ser. É
questão para refletir. No entanto, a prevalecer a legislação que regulamenta o
exercício das profissões, como ocorre atualmente e, considerando que a
Administração é uma profissão normatizada, não há razão para que algumas áreas
sejam respeitadas e outras não.
Na administração pública, de onde
deveria vir o exemplo de respeito às normas e regulamentações, prevalece, via de
regra, o descaso e o descompromisso com elas. Há cerca de cinco anos orientei
estudo que visava verificar a inserção de administrações em funções típicas da
profissão em municípios do entorno de Viçosa e a conclusão foi desanimadora.
Apenas cerca de 30% dos cargos eram ocupados por administradores. Não tenho
razão alguma para acreditar que o quadro atual seja muito diferente. Nos
municípios e na gestão pública de maneira bastante generalizada no Brasil, ainda
prevalecem o apadrinhamento, o compadrio e o toma lá dá cá da política rasteira
e desrespeitosa. Comprovei isso, desolada, em estudo durante a minha
dissertação de mestrado. Também nesse caso, a não ser em poucas e felizes
exceções, creio que a situação não tenha mudado muito desde 2007, data do meu
estudo.
Aproveito o dia de hoje para alertar
principalmente meus jovens alunos para a importância de uma formação
qualificada e de uma atuação politica eficaz em torno de associações e
entidades representativas sérias. O administrador precisa participar de seus
conselhos e sindicatos e cobrar que o exercício da profissão seja fiscalizado,
assim como fazem, por exemplo, os Conselhos de Engenharia, de Odontologia, de
Medicina, entre outros.